A ida de Harry e Meghan às Nações Unidas no Dia Internacional de Nelson Mandela está cheia de contradições e parece revelar os primeiros sinais de crise entre o casal, que lida também com a publicação de um livro explosivo que acusa a ex-atriz de tentar destruir a família real e de manipular o príncipe, tornando-o seu cúmplice. Na Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, o duque de Sussex fez um discurso emocionante centrado na figura histórica do ex-Presidente da África do Sul e no legado social e humanitário que deixou, mas não se esqueceu de recordar a mãe e o amor que ela lhe transmitiu por África desde criança, reconhecendo que foi nesse continente que “me senti mais próximo da minha mãe, foi onde encontrei consolo quando ela morreu e é onde soube que a minha mulher era, na realidade, a minha alma gémea.” Palavras que pareciam reafirmar o seu amor por Meghan, mas que entravam em contradição com o modo brusco com que minutos antes tinha tentado evitar que a sua mulher lhe desse a mão enquanto permaneciam sentados, lado a lado, na plateia. Ora, no dia 18 de julho, Harry e Meghan entraram no edifício das Nações Unidas e pareciam estar de bom humor, de mãos dadas e a sorrir. As fotos e os vídeos mostram o casal sentado, antes do discurso de Harry, com Meghan empenhada em acalmar os nervos do marido. No entanto, a dado momento Harry vê-se livre da mão de Meghan e esta parece não ter gostado, puxando o braço do marido com uma mão enquanto, com a outra, lhe agarra de novo o braço num gesto controlador. Vê-se Harry mudar de semblante, ajustar o blazer e baixar o olhar, com uma expressão facial que parece tensa e incómoda.
Sendo Meghan e Harry um dos casais mais escrutinados da atualidade, esta peculiar interação entre os duques foi imediatamente analisada por especialistas em linguagem corporal, que identificam este comportamento de Meghan como típico de alguém controlador e o incómodo de Harry como um sinal de que algo vai mal entre o casal. A biógrafa e analista real Angela Levin falou sobre a intervenção do príncipe Harry na ONU e referiu-se ao momento em que Meghan agarrou a mão do marido como “absolutamente terrível”, adiantando: “Ele parece tão infeliz, tão exausto e muito, muito perdido.” O que foi mais estranho, segundo a analista, “é que ele estava sentado com Meghan ao lado, como é natural, ela agarrou-lhe o braço e ele empurrou-o para trás. Por sua vez, Meghan agarrou-o com uma mão e segurou o seu braço com a outra, para que ele não pudesse mover-se”, continuou Levin. Uma análise pouco abonatória para a duquesa de Sussex, que ganhou maior ênfase quando, três dias depois, no dia 21 de julho, foi retratada como “explosiva”, “imprevisível” e “manipuladora” numa nova biografia. Nas páginas do livro Vingança: Meghan, Harry e a Guerra entre os Windsors, o biógrafo Tom Bower assegura, entre outras coisas, que a atriz se casou com o neto da rainha Isabel II de Inglaterra por ambição. Bower é jornalista, ex-colaborador da BBC e um dos biógrafos mais temidos pelos famosos, tendo passado o último ano a investigar a vida de Meghan, falando com 80 pessoas que passaram pela sua vida. Nesta biografia não autorizada revela a personalidade oculta da duquesa de Sussex numa história plena de raivas, chantagens e fingimentos, não deixando o príncipe Harry ileso, ao identificá-lo como seu cúmplice, considerando o casal como uma “ameaça” à família real britânica.
Ânsia de protagonismo no Jubileu
Tom Bower salienta ao longo de todo o livro a ânsia de protagonismo de Meghan, lembrando as manobras que os duques de Sussex levaram a cabo junto da rainha Isabel II numa tentativa de estarem presentes na varanda do Palácio de Buckingham durante as comemorações do Jubileu. “Meghan pediu para estar presente na varanda do Palácio de Buckingham em grande parte porque tinha consciência do impacto que tinha aparecer próxima da rainha no documentário que está a ser gravado para a Netflix. O príncipe Carlos foi quem mais se opôs à sua presença ao lado da família na varanda do palácio. Acabaram por só fazer uma curta aparição na Catedral de São Paulo e partiram com a ira acumulada por não terem o papel de destaque que desejavam”, conta Bower.
O alívio da rainha pela ausência de Meghan no funeral
Outra revelação do livro é a expressão de grande alívio – “Graças a Deus que não vem” – que a rainha deixou escapar quando soube que Meghan não acompanharia o neto na viagem a Inglaterra para assistir ao funeral do príncipe Filipe, em abril de 2021. Meghan estava grávida de uma menina, a quem chamariam Lilibet, escolha que não terá agradado completamente à rainha, por ainda ter muito presentes as acusações feitas pelo casal durante a polémica entrevista que deram a Oprah Winfrey, que foi para o ar em março de 2021.
Afinal, foi Meghan quem fez Kate chorar
No seu livro, Bower acusa Meghan de mentir e fazer-se de vítima no incidente com Kate Middleton poucos dias antes do casamento real em Windsor, em maio de 2018. Segundo Meghan, a duquesa de Cambridge foi quem protagonizou o momento de tensão entre ambas e a fez chorar. “Depois pediu desculpa e enviou-me flores”, contou Meghan durante a entrevista a Oprah Winfrey. O relato de Bower apresenta uma versão oposta: “Foi Kate Middleton quem derramou algumas lágrimas pela forma como Meghan Markle comparou a princesa Charlotte a Ivy, filha da sua amiga Jessica Mulroney. Ambas já tinham discutido sobre as damas de honor deverem ou não usar meias e por Kate achar curto o comprimento do vestido de Charlotte.”
A tentativa de ajudarem Meghan com o pai
O livro relata também como a rainha e o príncipe Carlos mantiveram uma longa chamada com Meghan na tentativa de a persuadirem a viajar para convencer pessoalmente o seu pai, Thomas Markle, a estar presente no seu casamento em Windsor. Meghan rejeitou a ideia com o argumento de que era muito pouco realista pensar-se que poderia viajar discretamente até ao México e encontrar-se com o pai sem ser seguida por paparazzi.
Comparações forçadas com Diana
Meghan é caracterizada ao longo de todo o livro como uma pessoa manipuladora, com grande poder sobre o príncipe Harry, que tem conseguido usar para a ajudar a obter aquilo que quer. Segundo Bower, a ideia de equiparar Meghan à malograda Diana, “por suscitar atenção mediática, terá partido da própria ex-atriz. Knauf [assessor de imprensa do príncipe] insistiu que dramatizar demasiado a angústia de Meghan seria contraproducente, mas Harry manteve-se firme. Se o desejo de Meghan de ser equiparada a Diana não se cumprisse, insistia Harry, provavelmente perdê-la-ia”, lê-se nesta nova biografia. A declaração que equiparava Meghan a Diana foi tornada pública em novembro de 2016, cinco meses depois de Harry e Meghan se conhecerem.
Terror no palácio
Durante a sua estada no Palácio de Kensington, Meghan mostrou o seu mau feitio e recebeu denúncias por maus-tratos e bullying. A duquesa “fez chorar as pessoas com o seu tom passivo agressivo” e exigiu voos em primeira classe e alojamento de luxo para viagens de negócios mesmo antes de se casar com o príncipe Harry, assegura Bower. Em Vingança, o jornalista ilustra o tratamento “abusivo” de Meghan com o seu próprio séquito, “e em particular com quatro mulheres que trabalhavam para ela e com o pessoal diplomático britânico” durante a visita do casal à Austrália. “Num acesso de raiva, ela acabou por atirar uma chávena de chá pelo ar”, descreve Bower. “Embora a sua raiva possa ter sido alimentada pelo próprio Harry, que todas as noites mergulhava nas redes sociais para ler o que se comentava sobre o casal”, conclui o escritor.
Camilla numa situação delicada
O novo livro sobre os duques de Sussex deixa Camilla numa situação delicada. Segundo assegura Tom Bower, a duquesa da Cornualha fez alguns comentários durante um encontro familiar em que se encontrava o príncipe Harry sobre como seria o filho que iria ter com Meghan. A mulher do príncipe Carlos brincou que seria “engraçado” se o futuro filho dos duques tivesse cabelo “afro ruivo”. Harry ter-se-á rido com as palavras de Camilla, mas esse comentário terá provocado, mais tarde, a ira de Meghan.
Recorde-se que Harry e Meghan levantaram uma grande polémica durante a entrevista que deram a Oprah ao afirmarem que existia um membro racista dentro da família real.
A rutura com a família real é profunda
À semelhança do que acontece com outros lançamentos de teor não oficial, o Palácio de Buckingham recusou-se a comentar as alegações do biógrafo. O porta-voz dos duques de Sussex também ainda não reagiu à publicação.
Todos os acontecimentos destes últimos anos – em janeiro de 2020 Harry e Meghan anunciaram que se afastavam dos deveres reais em busca de liberdade – têm mostrado que o conflito que opõe os duques de Sussex à família real britânica é profundo e está longe de terminar. Apesar das tentativas de Isabel II para unir a família – circulam notícias de que acaba de convidar os duques de Sussex e os seus filhos para passarem uns dias com ela em Balmoral, na Escócia –, há a necessidade de proteger a monarquia das ameaças, e os príncipes Carlos e William mostram-se pouco disponíveis para uma aproximação com Harry. Com todos os recentes acontecimentos, há uma dúvida que parece ganhar força: será o amor de Harry e Meghan à prova de tudo?
Fotos: Getty Images e Alexi Lubomirski