Sheikha Latifa Mohammed al Maktoum, de 33 anos, é filha do emir do Dubai e primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Rashid Al Maktoum, de 68, que tem mais 30 filhos.
No dia 4 de março, Latifa deixou uma mensagem de voz no Whatsapp à advogada britânica, Radha Stirling, e fez um apelo, “Por favor, ajuda-nos. Estão homens lá fora. Oiço disparos e estou escondida com a minha amiga“. Estas foram as últimas palavras da princesa até agora. Terá, eventualmente, fugido do país com a amiga finlandesa, Tiina Johanna, e com um ex-agente secreto francês, Hervé Jaubert. Neste momento, o seu paradeiro é desconhecido.
Antes de desaparecer, Latifa deixou um vídeo de quase 40 minutos, no qual conta a sua história, o porquê de ter fugido e todas as torturas a que foi submetida, sob ordens do pai. “Este poderá ser o último vídeo que faço“, começa por dizer na gravação, divulgada pela advogada.
“Se estás a ver este vídeo, não é uma boa notícia. Ou estou morta, ou numa situação muito má”, acrescenta, após uma pequena introdução, na qual faz referência ao facto de o pai apenas querer saber dele próprio e do seu ego.
A princesa começa por contar a história de uma das suas irmãs, que terá fugido em 2000, por não ter qualquer liberdade. Após dois meses, foi encontrada no Reino Unido e levada de volta para o Dubai, onde chegou drogada.
Já havia tentado escapar em 2002, quando tinha 16 anos, mas foi capturada na fronteira. E foi aí que tudo piorou. “Prenderam-me no Dubai, sob ordens do meu pai. E torturaram-me. Um homem segurava-me e outro batia-me. Como estava em choque, foi como se nem sentisse dor. Fizeram-no repetidamente, durante cerca de meia hora. Nos restantes dias, as sessões de tortura duravam cerca de cinco horas“, contou, acrescentando, mais à frente, que, após ser torturada, rastejava até à casa de banho para conseguir ter acesso a água.
Numa das sessões, disseram-lhe, “‘o teu pai disse-nos para te bater até à morte. Essas são as ordens dele’. Ele é a pessoa mais malvada que conheço. Ele é pura maldade, não há nada de bom nele. Ele é o responsável pela morte de muitas pessoas“.
Após os três anos que esteve na prisão, voltou a casa, onde a sua mãe “não mostrou compaixão e disse-me que havia coisas muito piores que aquela minha estadia na prisão.” Esteve lá durante uma semana, até que teve uma crise e só gritava porque queria ver a irmã. Após este evento, foi levada para o hospital e, em seguida, de novo para a prisão. “Quando saí, odiava toda a gente, sentia que todos estavam contra mim e passei muito tempo com animais. Não interagia com pessoas“, disse.
No verão de 2017, tomou a decisão de fugir novamente, na esperança de obter o seu passaporte. “O meu pai é um ser humano nojento. A forma como ele vive e como trata as pessoas não é o que os media ‘dele’ retratam. Os media são controlados no Dubai. Acho que é tempo de ele enfrentar as consequências do que fez na vida dele. Ele não me assusta. É um ser humano patético“, termina a dizer.