Considerada uma das mais notáveis artistas plásticas portuguesas, Armanda Passos deixou um legado único, trabalhado ao longo de várias décadas dedicadas às artes. Um ano após a sua morte, a filha, Fabíola Passos Valença, assumiu a curadoria da primeira exposição retrospetiva da mãe, inaugurada recentemente na Fundação Champalimaud perante várias individualidades do país.
“Esta exposição foi pensada, desenhada, realizada com profundo afeto e é natural que esse afeto se faça notar. Muito mais do que uma homenagem, quisemos que fosse um momento de celebração de uma vida que se confunde com a obra, uma obra que marca e continuará a marcar a vida de todos nós”, afirmou a também artista, admitindo não ter sido fácil conseguir reunir as cerca de 80 obras em exposição, que acompanham o trabalho a óleo de Armanda Passos nos diferentes momentos da sua vida. “Isto só foi possível graças à generosidade de mais de quatro dezenas de colecionadores e instituições, que tornam esta exposição um momento único e irrepetível”, explicou Fabíola.
Amigo e admirador de Armanda Passos, o economista e político Miguel Cadilhe assegurou: “A Armanda era uma pessoa muito inteligente, finíssima de argúcia, sobretudo quando aparentava o contrário. Era graciosa, com várias formas de graça que muitas vezes aparecem nos seus trabalhos. Há muita graciosidade de Armanda Passos nas suas pinturas. Era generosa e era grata. Tinha um coração grande que voava alto e longe.”
Lídia Jorge, convidada por Fabíola para passar para palavras a obra de Armanda, assegurou: “Sinto-me muito honrada por poder assistir e participar nesta homenagem. Há 11 anos tive a felicidade de visitar a Armanda em sua casa, na sequência de um breve texto que escrevi sobre si. A minha admiração pela sua obra já era imensa, mas ampliou-se ao longo desse encontro”, assegurou a escritora, recordando: “A Armanda recebeu-me com alegria, mostrando-me o seu trabalho. E porque o fazia com simplicidade, diria quase com infantilidade, foi possível perceber que estava perante uma personalidade tão singular quanto a sua pintura. Falou com entusiasmo da sua relação com os animais e mostrou-se muito feliz com a criação de uma então recente formação partidária, a que designava partido dos animais, que, segundo dizia, vinha ao encontro do que muito aspirava. Em seu entender, seres humanos, animais, Natureza estavam destinados a entenderem-se e a arte faria por isso.”
“Esta exposição foi pensada, desenhada e realizada com profundo afeto e é natural que esse afeto se faça notar.” (Fabíola Passos)
No final da apresentação, as várias individualidades presentes, entre as quais se encontravam os antigos Presidentes da República Ramalho Eanes e Cavaco Silva, assim como o atual ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e o das Finanças, Fernando Medina, foram convidadas a acompanhar a historiadora de arte catedrática Raquel Henriques da Silva pelas várias obras que compõem esta retrospetiva, que estará patente até dia 31 de dezembro no Centro de Exposições da Fundação Champalimaud, em Lisboa.
“A Armanda Passos era uma pessoa encantadora, para além de uma pintora excecional.” (Maria de Belém Roseira)
Fotos: José Oliveira