Aos 66 anos, Geena Davis, uma das mais bem sucedidas atrizes de Hollywood nos anos 80 e 90, acaba de lançar uma autobiografia, intitulada Dying of Politeness (numa tradução livre, “morrer de boa educação”), na qual revela que em jovem era tão pouca assertiva que, para não ser mal-educada, se sujeitou a situações abusivas por parte de colegas masculinos sem reagir. Sem dúvida a razão que a levou a ser uma voz muito ativa no movimento #MeToo e a criar, em 2007, quando os seus três filhos eram pequenos, o Geena Davis Institute on Gender on Media, fundação que luta contra a discriminação de sexos em geral e, em particular, nas séries e jogos de vídeo infantis, por perceber que por cada três personagens masculinas havia apenas uma feminina. Essa fundação valeu-lhe uma distinção especial da Academia de Hollywood nos Óscares de 2019, o Prémio Humanitário Jean Hersholt.
Davis, que tem um QI acima da média, estudou Arte Dramática na Universidade de Boston, mas tinha começado a trabalhar como modelo quando, em 1982, foi escolhida por Sydney Pollack para um papel secundário em Tootsie, protagonizado por Dustin Hoffman, Jessica Lange e Bill Murray. Por essa altura ficou com a melhor das impressões sobre Hoffman, que mantém, e até achou Bill Murray um tipo simpático. A opinião sobre este, no entanto, mudaria radicalmente oito anos depois, quando foi convocada para um casting para o filme Quick Change, dirigido por Murray.
O casting teve lugar numa suíte de hotel, nada de extraordinário na época, mas Geena deparou-se com o realizador a usar um massajador. Este tentou convencê-la insistentemente a deitar-se na cama e a deixá-lo massajá-la. A atriz recusou-se, mas diz hoje que não o fez de forma suficientemente firme. “A forma como ele se comportou durante o primeiro encontro… Eu deveria ter saído e ter-me defendido, mas nesse caso não teria conseguido o papel.” A verdade é que conseguiu mesmo o papel, mas, como não alinhou no pedido de Murray, durante a rodagem este gritou várias vezes com ela. “Poderia ter evitado ser tratada assim se soubesse como reagir. Queria tanto fugir ao confronto que não o fiz”, disse agora numa entrevista ao The Times.
Geena Davis frisa que “Bill Murray tem um lado muito sombrio” e diz que ao falar neste assunto não está a dar uma novidade a ninguém, pois o ator tem sido alvo de várias queixas de assédio por parte de outras mulheres com quem tem trabalhado, tendo a rodagem do mais recente filme onde entrava sido cancelada recentemente por o ator ter tido um comportamento abusivo para com uma colega do elenco, que fez queixa dele. O caso está a ser investigado.
Um ano depois do incidente com Murray, Geena teve uma experiência que a terá ajudado a conquistar mais segurança e autoestima: ser convidada por Ridley Scott para protagonizar, ao lado de Susan Sarandon (cuja autoconfiança Geena muito admira), Thelma e Louise, road movie feminino sobre duas mulheres vítimas de casamentos abusivos que decidem fugir das suas vidas e, depois de muitas aventuras e até um homicídio, optam pela libertação máxima: o suicídio em conjunto. Este filme valeu a ambas nomeações para o Óscar de Melhor Atriz em 1992. Três anos antes, Davis tinha visto o seu talento reconhecido com um Óscar de Melhor Atriz Secundária por Turista Acidental.