Sofia Dinis nasceu em Albufeira e cedo aprendeu a gostar de passar os dias na praia. Era um dos seus sítios preferidos até aos nove anos, altura em que lhe foi diagnosticada psoríase, uma doença de pele. Foi só aos 16, depois do primeiro desgosto de amor, que as manchas vermelhas (feridas) começaram a cobrir-lhe o corpo. A partir de então começou a esconder-se debaixo da roupa, a isolar-se, e encontrou na arte um refúgio. Dedicou-se também aos animais (tem dois buldogues- franceses e um dogue-de-bordéus) e às plantas: tem mais de 600 em casa. A falta de informação sobre a doença, na altura, não a deixava sossegar, e controlar as crises parecia uma miragem.
Hoje, além de ter um estilo de vida que lhe permite conviver com a doença, faz também terapia de forma regular. As tatuagens que tem no corpo (já lhes perdeu a conta) surgiram depois dos 26 anos, para desviar os olhares curiosos que a incomodavam, obrigando-os a focarem-se nas obras de arte. Essa arte é também a sua vida desde os 30 anos e permitiu-lhe ser novamente independente.
Se lidar com a doença não foi fácil, o seu percurso também teve muitas pedras no caminho. Mudou-se para Lisboa aos 21 anos, para estudar Design de Comunicação. Fez ainda um curso de Fotografia e uma formação na área da estética e durante alguns anos era a fazer unhas de gel que amealhava alguns euros. Entretanto, apaixonou-se, e com esse namorado partilhou casa e emprego.Quando o namoro chegou ao fim, Sofia ficou sem casa e sem dinheiro. Tinha 33 anos. Foi forçada a voltar ao Algarve, mas já não se identificava com o sítio. Poderia ter lá ficado. Tinha casa, mesa e roupa lavada e arranjava facilmente emprego, mas não se entregou à depressão nem se conformou. Regressou a Lisboa, mês e meio depois, para lutar por um lugar como tatuadora. Trazia 70 euros no bolso, 40 para combustível e o restante para se orientar. O medo de não ser capaz nunca lhe toldou os sonhos e conseguiu dar vida ao seu projeto. Hoje, tatua dois ou três dias por semana. Abre a agenda trimestralmente e são milhares os formulários que recebe. Só para os meses de abril, maio e junho foram 11 mil pedidos. Ouvi-la contar como se tornou numa das tatuadoras mais requisitadas do país é bater de frente com uma história de aceitação e superação.
Uma entrevista para ler na edição n.º 1401 da revista CARAS.