“Num país chamado Simone”, a protagonista retira-se. Aos 84 anos, e ao fim de 65 anos de carreira, Simone de Oliveira despediu-se dos palcos num concerto único no Coliseu dos Recreios. Segurando a emoção, a cantora foi interpretando os seus maiores sucessos, alguns partilhados com outros artistas, como Marisa Liz, Aurea, Henrique Feist, Carlão, Deejay Kamala, Edmundo Inácio, FF, Ruben Madureira, Sissi Martins e o saxofonista Armando Ribeiro.
As palmas, incessantes, ditaram o ritmo deste espetáculo, onde também houve espaço para a declamação dos poetas e para as palavras de uma mulher que, mantendo-se igual a si própria, se quis despedir do seu público como idealizou, com elegância e sem saudosismos. “Termino a minha carreira nos termos que quis e quero. (…) Fui rebelde, contestatária, opiniosa e continuarei a sê-lo. São 84 anos de vida. E muito bem vivida. (…) Só espero que continuem a reinventar-me e assim renasço. Tratem bem de mim”, partilhou Simone ao longo do concerto.
Nesta noite memorável, Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a cantora, um ícone nacional que extravasou os limites dos palcos, sendo uma referência como cidadã e mulher, como assegurou: “A Simone é muito especial na vida de todos nós. Os portugueses ficaram-lhe a dever a coragem, a luta pela mulher, a luta na doença, a capacidade de lutar pela liberdade e democracia, ser a encarnação daquilo que há de melhor na coragem portuguesa. É mentira que seja uma despedida. Não deixamos que Simone se despeça, mais depressa nos despedimos nós. E não se despede porque continuará a ser a mesma Simone de sempre, por muitos anos. Por mim, na primeira ocasião, quando ela puder e porque não há duas sem três, terei a honra de a condecorar pela terceira vez. Nunca é demais agradecer em nome dos portugueses o que ela fez e faz por todos nós.”
Ao seu lado nesta despedida Simone contou com o apoio de quem mais ama, os filhos, Pedro e Eduarda, e os quatro netos, André, Guy, Tomás e Miguel. “Ainda bem que a minha mãe teve a oportunidade de chegar aqui. As coisas têm princípio, meio e fim e temos de encarar isso com elegância, e acho que a minha mãe o fez. Estamos muito orgulhosos”, comentou o filho da cantora, que foi complementado pela irmã: “Fico sempre surpreendida com o que a minha mãe consegue fazer, ela ultrapassa as minhas expectativas. Fascina-me a sua capacidade de juntar à sua volta esta gente nova que reinventa as suas canções. Sinto um imenso orgulho por podermos estar todos com ela hoje.”
Foi com Desfolhada que a artista disse adeus. Um Coliseu em pé, emocionado, gritava: “Simone, Simone!” Simone cantou, agradeceu e saiu, de braço dado com o maestro Nuno Feist, não sem antes dizer: “Até sempre, até já.”
Fotos: Paulo Jorge Figueiredo