A 28 de novembro de 1941, Eunice Muñoz, então com 13 anos, subia pela primeira vez ao palco, no Teatro Nacional D. Maria II, no papel de Isabel em Vendaval, de Virgínia Vitorino, com encenação de Amélia Rey Colaço. E foi precisamente no dia em que se assinalaram oito décadas da sua estreia que a consagrada atriz voltou àquele que é um dos mais importantes palcos do país, em A Margem do Tempo, de Franz Xaver Kroetz, encenada por Sérgio Moura Afonso, e em que partilha o seu imenso talento com a neta Lídia Muñoz.
Um espetáculo carregado de amor e, neste caso, também de simbolismo. “Este teatro foi a minha casa durante muitos anos. Fui feliz no palco, em tudo o que fiz. Não posso deixar de falar na minha avó Augusta, de quem acho ter recebido o talento, não posso deixar de falar da minha mestra, Amélia Rey Colaço, que deve estar hoje a celebrar connosco na dimensão em que agora vive. E nos meus pais, que me orientaram no caminho do teatro. Agradeço, sobretudo, a vocês, público, que me acarinhou e que me aplaudiu desde que comecei até agora, que comemoro os meus 80 anos de carreira. Quero deixar a minha palavra à Lídia, a quem passo este testemunho, com a certeza de que continuará com a mesma exigência e talento. A todos os meus colegas deixo o meu agradecimento e uma palavra de coragem, para que continuem, porque o teatro precisa de nós, de nós em palco e de vocês, público, que recebem o melhor que temos para dar. O teatro mostra-nos que, apesar dos dias estranhos e difíceis que vivemos, o belo continua a existir”, declarou Eunice no final do espetáculo que assinalou a sua despedida dos palcos.
A acompanhar de perto todos os passos da mãe, António Muñoz confessou-se emocionado: “Comecei o meu dia a pensar que a minha mãe conseguiuchegar até hoje e voltar a estar no palco e a fazer o que foi sempre a sua grande paixão: o teatro. Estar connosco, dar-nos este presente tão grande de estar no palco e podermos vê-la, estar com ela e acompanhá-la. É um dia de muitos bravos para ela.”
No dia a seguir, também Lídia Muñoz deixou o seu testemunho através das redes sociais: “80 anos de carreira da Rainha disto tudo, desta atriz que não há igual e temos a sorte de ser nossa. Tenho poucas palavras para falar do dia de ontem, mas tenho a certeza de que assisti e fiz parte de um momento que vai ficar para sempre na história do teatro. Obrigada, Eunice, sinónimo de teatro. E obrigada, avó, sinónimo de amor.”
Na plateia a aplaudir estiveram não só a ministra da Cultura, Graça Fonseca, como o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, e o primeiro-ministro, António Costa, que sublinhou: “É uma pessoa por quem temos um enorme carinho e é muito bonito que aos 93 anos ainda aqui esteja, mais uma vez no palco, para dizer adeus ao seu público.”
A atriz morreu esta sexta-feira, dia 15 de abril, aos 93 anos.
Fotos: Paulo Jorge Figueiredo