Aos 45 anos, São José Correia é uma mulher muito mais serena e ponderada. Hoje, demora-se nos sítios onde é feliz e não precisa de agarrar todas as oportunidades profissionais para se sentir validada. Contudo, recusa-se a percorrer caminhos seguros, arriscando em novas áreas criativas, como a realização. Já com algumas curtas-metragens no currículo, a atriz está agora “obcecada” com o trabalho que quer realizar sobre os palhaços que caracterizam o universo do artista Ugo Rondinone.
Numa conversa sem tabus, São José Correia mostrou ser uma mulher bem resolvida, que tem recebido de braços abertos as mudanças que a maturidade lhe trouxe. Sem querer revelar a identidade do namorado, a atriz e realizadora confessa estar a viver um “grande amor”, com o qual tem descoberto um novo mundo afetivo.
– Para quem trabalha em televisão há tantos anos, que tipo de projetos continuam a desafiá-la?
São José Correia – Tudo aquilo que não conheço é desafiante. Por isso, qualquer proposta pode interessar-me. Não há papéis perfeitos, o que existe são desafios. E temos de fazer escolhas tendo em conta o momento da vida em que estamos. Se estamos parados, aceitamos uma proposta porque queremos trabalhar. No meu caso, já não aceito fazer muitas coisas ao mesmo tempo, porque estou mais cansada e sinto que preciso de me dedicar mais a cada projeto. Quando era mais nova, adorava gravar uma novela e fazer teatro à noite. Hoje, já não acho que tenha de fazer tudo. A idade trouxe-me calma. O tempo muda-nos.
– Aos 45 anos, é uma mulher muito diferente da que era há 10 anos?
– Sim, estou muito mais calma. Estou muito mais virada para dentro e para desenvolver a minha sabedoria. Tornei-me uma pessoa mais introspetiva. Hoje, durmo muito mais do que há 10 anos, por exemplo. Não fico tão excitada com aquilo que acontece. Aprendi que nem tudo é tão bom ou tão mau quanto parece.
– Mas assim perde aquela capacidade de se deslumbrar com o que está à sua volta…
– Mas tem de ser. Imagine o que seria se continuasse a ser uma deslumbrada como era há 20 anos. Seria uma pateta. O meu namorado diz que não cresci, e, por um lado, é verdade. Por outro, não é, porque aprendi a organizar-me e a racionalizar os sentimentos e a forma como os expresso. Aprendi a pensar.
– A São José sempre foi admirada, e criticada também, por ser frontal e dizer sempre aquilo que pensa. Continua com essa assertividade?
– Passei por várias fases. Há uns anos, a frontalidade era o mais importante para mim. Depois, aprendi que a frontalidade tem de ser vivida com alguma sensibilidade. Quando somos demasiado frontais, magoamos os outros. Antes, se não gostava de alguém, dizia logo. E há uma linha muito ténue entre sermos frontais e mal-educados. Também percebi que tudo o que digo tem consequências, e que podem ser muito negativas. Não me tornei hipócrita, mas sei que temos de seguir as regras do jogo. É assim que se vive em sociedade. Neste momento evito discussões. É uma questão de inteligência emocional e de maturidade.
– E “crescer” tem sido doloroso?
– Sim, de alguma forma. Nada que me leve ao queixume. Não sou de ficar deprimida. Arrumo muito bem os meus sentimentos. Agora, crescer traz sofrimento, mas também traz alegrias.