Para Maria Elisa Domingues o jornalismo sempre foi muito mais do que uma escolha profissional. É, como define, “uma forma de olhar o mundo”, baseada na curiosidade e na capacidade de se pôr no lugar do outro, princípios que balizaram a sua carreira na televisão e que continuam a sustentar as escolhas que faz na vida de todos os dias.
Com a certeza de quem sabe bem quem é, mas com a humildade de quem reconhece que continua a aprender, a antiga jornalista da RTP não tem medo de partilhar o que pensa e de dizer em voz alta verdades incómodas, assumindo também as suas fragilidades e medos. O lado menos bom do envelhecimento, as saudades dos que já partiram e a permeabilidade às opiniões dos outros põem a nu o seu lado mais emotivo, que tantas vezes ficou escondido pelas decisões arriscadas e pioneiras que tomou quando assumiu cargos de chefia no canal público de televisão. Contudo, nesta conversa não cabem apenas glórias do passado. Estando a percorrer um caminho na literatura, a antiga diretora de programas da RTP lançou recentemente o livro 40 Anos do SNS, no qual dá voz aos protagonistas do Serviço Nacional de Saúde.
Tendo como mote esta obra, Maria Elisa conversou com a CARAS sobre as inquietações que continua a ter aos 69 anos, os projetos que ainda quer concretizar e a vida estimulante que partilha com o marido, o advogado norte-americano Sanford Hartman, com quem se casou há sete anos.
– Na apresentação deste livro sobre os 40 anos do Serviço Nacional de Saúde foi referido que é um grande trabalho de investigação jornalística. Sente que este trabalho lhe permitiu “regressar” ao jornalismo?
Maria Elisa – Sim, é verdade que foi um grande trabalho de investigação jornalística. Foi um convite que recebi em branco do então ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes. Tive inteira liberdade para o fazer e demorei algum tempo a perceber de que forma poderia abordar um tema tão vasto, tornando-o atrativo para as pessoas. Os portugueses consideram que o Serviço Nacional de Saúde é a maior conquista do 25 de abril. Há uma ligação emocional a este tema, da qual comungo. É algo que todos achamos que conhecemos, porque utilizamos, mas depois, quando vamos investigar com olhos de jornalista, percebemos que é uma realidade muito complexa, a qual tentei abordar em 350 páginas.
– É um livro onde cabem muitas conversas…
– Sim. Fui moldando o conceito do livro à medida que falava com as pessoas. Passei um ano a fazer entrevistas, por vezes mais do que uma por dia. Fiz centenas de entrevistas. Cheguei à conclusão de que tinha de dar voz aos protagonistas do Serviço Nacional de Saúde, essencialmente àqueles que estão no terreno todos os dias, como médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais… Acompanhei equipas de cuidados psiquiátricos e domiciliários em todo o país e fui compondo este puzle. Para mim, era muito importante espelhar a realidade de vários pontos do país, não me quis centrar em Lisboa. Tentei escrever um livro que faça sentido ser lido agora como daqui a meia dúzia de anos.
– Foi bom voltar ao terreno, uma vez que já saiu da RTP há sete anos?
– Nunca me senti completamente fora do terreno, porque vou escrevendo alguns artigos. Contudo, este teve outro fôlego. Nos últimos meses antes da publicação trabalhei 16 horas por dia e fiquei surpreendida, porque percebi que a minha memória está ótima e que tenho muita resistência.
Maria Elisa “Nunca me aborreci, não sei o que é o tédio”
A escritora, que lançou recentemente o livro “40 Anos do SNS”, revela os projetos que quer concretizar e as inquietações que continua a sentir aos 69 anos.
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