
Joaquim Norte de Sousa 2019
Ruy Silva tinha apenas 15 anos quando fez a sua primeira exposição de pintura, em Viseu, de onde é natural. Trinta anos depois, abriu-nos as portas da sua casa e ateliê, no Porto, onde vive há 17 anos, para nos contar como tem sido toda uma vida dedicada à arte. Apesar de ser conhecido como o “pintor das laranjas”, por ter representado este fruto em todas as suas obras nos primeiros anos de carreira, tem na verdade um catálogo diverso. Além de pintar e intervir em quadros, Ruy Silva já desenhou mobiliário e peças de iluminação, o ano passado abriu uma galeria em Espinho, a Ruy Silva Art Gallery, e este ano aventurou-se com uma coleção de óculos.
– Quais os momentos mais marcantes das suas três décadas de carreira?
– Nunca irei esquecer a minha primeira exposição em Paris, há 15 anos. Já tinha exposto internacionalmente, mas ver as minhas obras no Marché D’Art Contemporain, na Bastilha, e vender mais de metade da coleção marcou-me. Outro momento foi no Porto, onde concretizei o sonho de expor numa igreja. Sempre que passava pela igreja românica de Cedofeita imaginava as minhas obras ali expostas. Foi muito especial, contei com um bailarino a dançar ao som da Ave-Maria, de Schubert, na versão da Céline Dion. Mais recentemente desenvolvi uma técnica nova, que me obrigou a romper com o passado. Comecei a reconstruir os sentimentos e, em vez de pintar uma tela lisa, rasguei-a como se fosse a vida. A vida é composta por vários momentos, então cruzei as várias tiras da tela como se fossem um painel da vida.
– As laranjas continuam a ser o seu elemento identificativo?
– Continuam, mas o curioso é que aparecem intuitivamente, não é propositado. Sei que as pessoas me conhecem como o pintor das laranjas, e a vocês tenho de agradecer esta associação, ficou da última entrevista que me fizeram…
– Porque de facto, nessa altura, as laranjas estavam mesmo presentes em todas as peças da coleção…
– Sim, e curiosamente foi por causa delas que eu entrei no mercado de Paris. E na coleção da reconstrução de que falava há pouco todas essas referências vêm ao de cima. A laranja aparece bordada na tela, mais ou menos evidente, em fruto ou na cor. Quando uso os pássaros como sentido de libertação, faço-os em cor de laranja. Um pormenor simbólico…
Uma entrevista para ler na íntegra na edição 1244 da CARAS