Este sábado, dia3, o The New York Times publicou um artigo online no qual Uma Thurman revelava ter sido vítima de assédio por parte do produtor cinematográfico Harvey Weinstein. Além da denúncia, houve algo mais que se destacou, nas declarações da atriz. No artigo, que tinha como início o excerto “Sim, Uma Thurman está zangada. Ela foi violada, assediada, mutilada e traída“, estava também presente um vídeo do acidente de viação que sofreu durante as filmagens de Kill Bill. Esse momento de grande perigo deixou Uma com o pescoço “permanentemente danificado e os joelhos mutilados“, como diz a própria.
Duas semanas após o ocorrido, a atriz pediu, através do seu advogado, à Miramax para ter acesso às filmagens. A resposta foi clara: Uma Thurman teria de assinar um documento que tirava responsabilidades à produtora de quaisquer consequências futuras associadas à dor e sofrimento que a atriz poderia vir a ter. Ela não assinou e apenas agora, 15 anos depois, teve acesso à gravação, após uma longa busca na qual Quentin Tarantino foi uma grande ajuda.
Durante vários anos, a relação entre Uma Thurman e o realizador esteve com um ambiente muito ‘aceso’ e ficou marcada por várias discussões. Isto porque a atriz diz ter sido ele a pressioná-la para gravar a cena, na qual conduzia um carro a alta velocidade por uma estrada perigosa. Aliás, logo após ter regressado do hospital, a atriz conta que os dois tiveram uma grande discussão, “Eu acusei-o de tentar matar-me. E ele ficou muito chateado, o que penso ser percetível, uma vez que ele não sentia que tivesse sido essa a sua intenção“.
Agora, Tarantino veio quebrar o silêncio acerca do assunto. À revista online norte-americana, Deadline, disse: “Lembro-me muito bem. Era um dos últimos dias das filmagens. […] Comecei a ouvir o produtor dizer que a Uma estava receosa acerca da gravação da cena de condução. Nunca se tinha falado em arranjar um duplo porque era simplesmente conduzir. Tenho a certeza de que revirei os olhos e fiquei chateado quando soube [que Uma estava receosa].”
Apesar de tudo, o realizador garante não ter gritado com a atriz. Pelo contrário, foi escutar os seus receios e, depois disso, sabendo que ela era uma condutora instável, apesar de ter a carta, ele próprio conduziu por aquela estrada. Aliviado por ter visto que era segura, dirigiu-se a Uma, “Estava muito feliz, a pensar que não seria um problema e que ela conseguiria fazer aquilo. Sorridente, disse-lhe ‘Uma, está tudo bem. Tu consegues perfeitamente fazer isto. É uma linha direita. Entras no carro no número um e conduzes até ao número dois e fica tudo bem'”.
Uma concordou. “Porque ela acreditava em mim. Porque ela confiava em mim. Eu disse-lhe que a estrada era uma linha direita. Eu disse-lhe que era seguro. E não foi. Eu estava errado. Eu não a forcei a entrar no carro. Ela entrou porque confiava em mim“, contou Tarantino. Apesar de não ter forçado a atriz, o realizador arrepende-se de não ter verificado o caminho uma segunda vez, sendo que foi, provavelmente, essa a causa do acidente. A estrada não era assim tão direita, quando atravessada numa das direções.
“Pensei, ‘uma estrada direita é uma estrada direita’, não achei que houvesse diferença em conduzir na direção oposta. É um dos maiores arrependimentos da minha vida. Como realizador, aprende-se coisas, muitas vezes, através de erros terríveis. E este foi um dos meus, não ter conduzido por aquela estrada uma segunda vez“, contou Tarantino.
O realizador explica que a relação entre os dois foi muito afetada nos dois a três anos seguintes mas que, agora, voltaram ao normal e que falaram sobre o assunto antes de Uma dar a entrevista ao The New York Times. Além do acidente, a atriz revelou o assédio que sofreu por parte de Harvey Weinstein, sendo que Tarantino garantiu que este já lhe fez um pedido de desculpa.