Não cresceu com a vontade crescente de ser ator. Mas foi quando essa vontade surgiu, e quando quis tentar a sorte no Conservatório, que Jorge Corrula enfrentou um não e a dúvida se seria este o caminho. Esta dúvida levou-o a estudar Direito, mas a verdade é que o seu caminho, mesmo que não o soubesse, já estava traçado. (…) Humilde e rigoroso, Jorge Corrula dá-se o devido valor, mas recusa-se por em bicos de pés. E é desta forma que tem construído a sua carreira e a sua vida ao lado de Paula Lobo Antunes, com quem está há 12 anos, e com quem partilha o “privilégio” de ver Beatriz, de quatro, crescer.
– Sente que é o rigor que define a forma como está na sua profissão?
Jorge Corrula – Sim, sem dúvida. E é assim por causa das pessoas que apanhei no início do meu trajeto. Eram pessoas que não tinham o deslumbramento da televisão, mas tinham a vontade de fazer teatro, que era uma coisa onde não se ganhava dinheiro, fazíamos porque gostávamos de fazer. E eles sempre me incutiram muito rigor. E dado os dias de hoje, em que os atores são piores do que cogumelos, sejam bonitos ou não, sejam saborosos ou não, sejam venenosos ou não, eu, em compensação, puxo ainda mais para o rigor. Não é por se ter uma cara bonita que se é ator. Há que batalhar para conquistar as coisas. A expressão “figura pública” dá-me comichão. Costumo gozar e dizer que sou figura púdica. Porque às tantas já não tem a ver com a tua profissão. E eu tenho muito orgulho em escrever, quando preencho o IRS, actor, com c. (…) Esta coisa das pessoas nos reconhecerem é como uma droga que a maior parte das vezes sabe bem. Mas depois há alturas em que queres desligar e já não dá, já perdeste o controlo. E é também esse rigor que gosto de manter. Com este contexto todo, sinto necessidade de contrabalançar e de voltar aos meus princípios. Batalho muito por condições de trabalho que tínhamos e que agora já não temos, não me sujeito a determinadas condições a que a maior parte dos atores mais novos se sujeitam porque têm medo de perder o seu lugar. Tudo isto é uma batalha constante. E a meio da minha carreira quero, porque no fundo é isto que importa, que as pessoas que me são próximas tenham orgulho em mim e no meu percurso. Porque isto de ganhar dinheiro é muito giro, mas se não te sentes orgulhoso com aquilo que fazes, vais ser muito revoltado na tua velhice. Tive estas férias todos os anos, as pessoas na rua reconhecem-me, mas e a minha filha? Olha para mim e vê uma figura pública ou vê um ator? Quero que ela veja um ator.
– A sua infância o tornou no pai que é hoje?
– Sim, também. O meu pai, por questões profissionais, não era muito presente, embora haja um amor muito grande. Tenho muito orgulho na determinação e rigor que ele me passou no trabalho, mas isso privou-me de o ter tão perto de mim. E, se calhar, é possível gerir as coisas. Nestes quatro anos tenho conseguido gerir. Às vezes não faço os trabalhos que gostaria, não vou tantas vezes ao cinema como gostaria, mas faço isso de maneira deliberada e consciente, e faço porque quero fazer. Um filho é uma prisão, mas é uma prisão na qual gosto muito de estar. O importante é que reconheças as privações e dificuldades e não culpes o teu filho por causa disso. E eu isso não vou fazer porque tomo estas decisões com consciência. Quando estou a dar à minha filha, estou-me a dar a mim. É uma coisa muito saudável.
– E a Paula é a pessoa certa para ter ao seu lado nesta caminhada?
– É, é uma balança como não existe no nosso sistema de justiça, equilibramo-nos muito bem. E foi essa harmonia que ajudou a que nós nos tenhamos mantido juntos nestes 12 anos. Às vezes tenho mais peso e desequilibro as coisas, às vezes é a Paula, mas tudo se acerta. Ainda ontem uma amiga nos perguntava se estávamos bem. Porque, embora não queira falar sobre isso, todos nós sabemos que a Paula está a passar por uma fase difícil [a atriz perdeu o pai, João Lobo Antunes, há três meses]. E em resposta à nossa amiga, a Paula respondeu: “Estamos. É duro, mas está tudo bem entre nós”. As coisas afetam os casais e nem tudo é cor-de-rosa. Passamos por fases mais duras, em que pensamos se vale a pena ou não, mas depois faz sentido.
Leia esta entrevista completa na edição 1124 da revista CARAS:
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Vídeo de ‘making of’ da sessão fotográfica que acompanha a entrevista: