Ana Leal conheceu
Patrícia e Letícia em 1998, quando as duas irmãs viviam na Santa Casa da
Misericórdia de Reguengos de Monsaraz. Tornou-se família de acolhimento das
jovens e, anos mais tarde, em 2007, pediu a guarda das duas. Aos
18 anos, Patrícia decidiu sair de casa.
Desde então, seguiram-se tempos complicados com Letícia, que, agora, por opção
de Ana Leal, também saiu de casa.
A jornalista enviou-nos um comunicado sobre o assunto que transcrevemos na
íntegra:
“Conheci a Patrícia e a Letícia em 1998 durante as filmagens de uma reportagem sobre crianças vítimas de maus tratos. Seguiram-se 9 anos em que, como família de acolhimento, tudo fiz para lhes proporcionar um futuro melhor.
O que me moveu foi tão somente acreditar que seria possível dar-lhes a família que nunca tiveram, embora tenham mãe biológica, tias e avós. Viviam na Santa Casa da Misericórdia de Reguengos de Monsaraz.
Nessa altura, como qualquer mulher, sonhava em ter filhos biológicos e sabia, com a Graça de Deus, que os podia ter. Mesmo assim, segui em frente com o projecto em que acreditei. Dei-lhes mais tarde um irmão, o meu filho Afonso, hoje com sete anos.
Em 2007, decidi pedir a guarda da Patrícia e da Letícia, já que a adopção não era possível. Fiz o que ninguém iria fazer por elas. A Patrícia tinha 17 anos e a Letícia 13 anos. Nesse ano vieram viver comigo para Cascais. Tinha acabado de me divorciar e recomecei sózinha, com os três, uma nova fase da minha vida, sem nunca questionar a opção que fizera e sem nunca lhes ter dado a entender que aqueles eram momentos muito difíceis do ponto de vista pessoal.
Pouco tempo depois, por opção própria e sem aviso, a Patrícia decidiu sair de casa, abandonando uma família que a amava e aqui incluo também os meus 5 irmãos, os meus pais e sobrinhas que sempre a trataram como sendo família de sangue.
Seguiram-se anos muito complicados com a Letícia. Procurei várias vezes a ajuda dos tribunais, Segurança Social, Comissão de Protecção de Menores e psicólogos. A insustentabilidade da situação levou-me a comunicar à Letícia, agora maior de idade, que teria de começar a percorrer a sua própria estrada, sem que tal significasse um corte com a família e, obviamente, contando com o meu apoio no natural processo que se seguiría. Repito, tal não implicaría um corte com a família.
Não vou relatar as situações graves que aconteceram e que fariam, ano após ano, qualquer pessoa desistir. Eu não desisti, mesmo quando todos me aconselhavam a fazê-lo. Está tudo comprovado em tribunal e admitido pela própria Leticia. Não falarei sobre isso porque não quero expôr a Letícia, o meu filho Afonso e a minha família. O meu silêncio é a melhor forma de os proteger.
Sei que dei tudo de mim e independentemente da amargura que a ingratidão sempre deixa, desejo-lhe as maiores felicidades. Procurarei guardar apenas as boas recordações com a tranquilidade de consciência de alguém que se entregou de alma e coração ao bem estar de duas crianças que me comoveram e a quem quis ajudar a encontrar um rumo na vida. É pensando nelas e no meu filho Afonso de 7 anos, que apelo a todos os colegas e meios de comunicação social a tratar este assunto com a reserva que o bom senso aconselha.
Caso venham a ser excedidos estes limites, reservo-me o direito de recorrer a todas as vias legais ao meu dispôr, para defesa do meu bom nome e da minha família.”
Ana Leal