A 3 de Maio de 2007,
Madeleine McCann, com quase quatro anos, desapareceu na Praia da Luz, no Algarve. Depois de meses de investigações inconclusivas,
Kate e
Gerry McCann continuam empenhados em encontrar a filha, que defendem ter sido raptada. O casal inglês que criou o
Fundo de Madeleine – Não Deixar Nenhuma Pedra por Revirar acredita que a filha está viva e é com uma esperança renovada que vê a reavaliação do processo, agora com a colaboração da polícia inglesa.
Foi a propósito da promoção do livro
Madeleine, no qual Kate conta todos os factos que envolvem o desaparecimento da filha e como é que têm vivido desde então, que a CARAS falou com o cardiologista e a antiga médica anestesista.
– A Kate escreveu este livro para contar a verdade sobre o desaparecimento de Madeleine e os vossos esforços para a encontrarem. Qual é, então, a vossa verdade?
Kate McCann – Sempre quis escrever a verdade, dizer o que aconteceu. Claro que é sempre difícil partilhar todos os detalhes privados com as outras pessoas, mas fazemo-lo para nos ajudar financeiramente nas diligências para procurar Madeleine. Espero que as pessoas que têm dúvidas de que ela continua viva leiam o livro. Não vamos desistir da nossa filha.
– Ainda acreditam que Madeleine poderá ser encontrada. É uma esperança emocional ou também racional?
– São as duas. No meu coração acredito que ela está viva e a minha razão também me diz isso. Há boas hipóteses de a encontrarmos e sabemos que há crianças que aparecem anos depois de terem sido raptadas. Portanto, não é apenas um pensamento esperançoso. Acreditamos que a Madeleine poderá ser encontrada.
– Seria melhor saberem alguma coisa sobre ela, mesmo que fosse a confirmação de que morreu, ou preferem não receber essa notícia e continuarem sem saber nada?
Gerry McCann – Nós queremos saber. Continuar a viver assim não é bom.
Kate – Não saber nada é muito difícil. Pensamos constantemente nisso. De uma maneira ou de outra, queremos saber.
– Como é que é a vossa rotina com os vossos filhos gémeos, Sean e Amelie, agora com seis anos? Tentam ter uma vida normal?
– Obviamente que não é a vida normal que tínhamos antes. É um novo normal. Estes meses têm sido muito atarefados, porque tenho estado mais ocupada com o livro. O Gerry continua a trabalhar no hospital e estamos empenhados na campanha para encontrar a nossa filha. As crianças estão a tempo inteiro na escola, têm as festas de aniversário, as aulas de natação e estão com outras crianças. Tivemos de nos adaptar.
Gerry – Uma pessoa que esteja de fora vê-nos como uma família normal, com as rotinas iguais às de tantas outras famílias. É quando as crianças estão na escola ou já a dormir que temos as reuniões e apoio familiar. A Madeleine continua desaparecida e isso é algo que está sempre presente.
Kate – Não estamos completos sem ela. A sua ausência é sempre palpável.
– Os vossos filhos entendem o que aconteceu à irmã?
– Tivemos aconselhamento infantil e sabemos que sempre que eles fazem perguntas, temos de tentar responder dentro dos possíveis. Eles sabem que a irmã está desaparecida e que não está correto alguém levar uma pessoa que não lhe pertence. Mas as crianças são muito resistentes. Ficam tristes, mas não choram.
Gerry – Eles sabem o que aconteceu, querem encontrar os culpados e salvá-la. Eles tornam as coisas muito práticas – a Madeleine está desaparecida, temos de encontrá-la e descobrir quem são os culpados.
– Voltar à sua vida profissional está fora de questão?
Kate – Tenho estado tão ocupada nos últimos quatro anos que o meu trabalho tem sido empenhar-me na campanha e nas investigações para encontrarmos a Madeleine. Não sei se vou voltar ao meu trabalho… Não é que não queira voltar a trabalhar, mas talvez não volte ao meio hospital e me dedique a um trabalho com crianças desaparecidas.
– Como é que estão a encarar a reavaliação do caso, desta vez com a colaboração da polícia inglesa?
Gerry – Já era um desejo que tínhamos há dois anos e meio. É um grande processo. A polícia inglesa tem muita experiência nestes casos e reavaliar o processo vai ajudar na procura de Madeleine.
Kate – Estamos a reunir toda a informação, rever os factos, explorar mais algumas pistas e acreditamos que aumente as hipóteses de a encontrarmos.
– No livro, Kate conta como a força do seu marido tem sido um pilar. O Gerry tem sido mesmo uma pessoa forte ou é apenas uma aparência?
Gerry – A Kate também é forte, mas é impossível descrever aquilo pelo que temos passado. Estamos muito desgastados e aquilo que se vê publicamente não é muitas vezes aquilo que se passa no nosso coração. Pensámos que a nossa vida tinha acabado e que a nossa família tinha sido destruída. Estivemos em sítios muito negros. Parece um filme de terror, mas é a nossa vida.
– E como estão enquanto casal?
Kate – Penso que sempre fomos um casal forte e sabemos que há muitos casamentos que não sobrevivem a este tipo de experiências e o nosso sobreviveu.
Gerry – Tem sido muito difícil a muitos níveis, mas sempre comunicámos, o que nos ajudou a manter a união.
– Como é que continuam a lidar com as pessoas que acreditam que estão envolvidos no desaparecimento da vossa filha?
– É triste, mas na Grã-Bretanha essas pessoas são uma minoria. E o livro não foi escrito para elas e sim para as pessoas que acreditam ou querem acreditar que a nossa filha está viva.
– Depois do que têm passado, acreditam que ainda podem ser felizes?
Kate – Conseguimos sentir alguma felicidade… No livro escrevo que durante muito tempo foi-me difícil desfrutar das coisas. Tudo era triste… Não me permitia ser feliz… E será sempre um bocadinho assim, porque nunca seremos a família que deveríamos ser.
Gerry – A nossa felicidade terá sempre um freio. Nunca seremos tão felizes como se a Madeleine estivesse aqui. Mas temos de estar gratos pelas outras coisas que temos na vida, como os filhos e o apoio que temos recebido.