Dânia Neto, 27 anos, cresceu no Algarve, mas a sua vontade de vingar no mundo da moda e da representação levou-a a mudar-se para longe da família. A viver em Lisboa, a atriz de
Laços de Sangue e
Lua Vermelha confessa que já viveu momentos de algum desespero e quase desistiu de tudo. Mas não o fez e hoje vê o seu esforço recompensado.
Concentrada numa carreira que está num ponto de viragem, Dânia não deixa, contudo, de pensar no seu lado mais pessoal. Numa entrevista intimista, revela que sente vontade de constituir família e abandonar a condição de solteira.
– Em
Laços de Sangue faz uma personagem que lhe tem trazido grande popularidade…
Dânia Neto – Sim, é a minha primeira personagem cómica, uma feirante, vendedora de fruta no mercado. Um papel que exige muito de mim, porque muda tudo, desde a maneira de falar ao guarda-roupa.
– Não se revê muito no papel…
– Em termos de vestuário e maneira de estar, não. Mas temos algumas coisas em comum, como o lado humano e maternal. Eu não sou mãe ainda, mas tenho um lado maternal muito apurado. E também o facto de ela ser muito verdadeira e sincera na parte sentimental.
– Começa a sentir o apelo maternal, é isso?
– Há anos que digo isso. Tenho 27 anos e sempre disse que gostava de ser mãe. Acho mesmo que nasci para ser mãe. Mas nunca se proporcionou e para trazer um filho ao mundo é preciso uma estrutura organizada, tanto a nível de vida como financeiro. E a vida que levo nem sempre o permite. Tenho a minha família toda no Algarve, por exemplo, e não teria ninguém para me ajudar. Além disso, a minha profissão é muito inconstante, tem altos e baixos. E para ter um bebé precisaria mesmo de uma estrutura diferente. E seria preciso encontrar um namorado, que não tenho [risos].
– Ainda não encontrou a pessoa certa?
– Não, mas ele anda aí.
– A profissão que tem pode influenciar a estabilidade de uma relação? Já sentiu isso?
– Já senti, sim. Primeiro, porque há pessoas que não sabem lidar com a exposição que temos, o que é normal. E temos que ter sempre muito cuidado para não se falar nas coisas antes de tempo, ou corremos o risco de que a certa altura falem mais no nosso currículo de namorados do que no nosso trabalho. Isto independentemente de já ter tido os meus deslizes e de já ter sido apanhada. Os meus namoros foram sempre longos… mas ainda não apareceu ‘aquela’ pessoa.
– Acha que o facto de se ter exposto em algumas produções ousadas, nomeadamente em revistas masculinas, pode ter alguma influência?
– Acho que não, até porque nunca me expus muito. Fiz agora a capa da
GQ e acho que a produção está superglamorosa. Penso que só um homem machista veria aí um problema, um homem seguro de si próprio acharia giro e poderia até sentir-se orgulhoso. Penso que o pior é mesmo a exposição pública e os cuidados que temos de ter.
– Mas sente falta de ter alguém a seu lado?
– Sinto muita falta, mesmo. Estou sozinha há bastante tempo. Ainda por cima, nesta correria toda sabe muito bem ter alguém em casa à nossa espera. Faz todo o sentido… Para mim, ter uma relação estável é mais um passo para me sentir uma mulher realizada. A carreira é muito importante, mas tem o mesmo peso que a estrutura familiar. Quero muito construir o meu lar, a minha família, isso é muito importante. Vejo pelas minhas amigas, muitas foram mães recentemente e todas dizem que se sentem mais mulheres, mais completas.
– Isso assumirá um peso maior porque tem a sua família no Algarve…
– Sim, é muito complicado. Há alturas em que me sinto completamente perdida e ponho tudo em causa. Já tive momentos em que pensei voltar a casa. Mas já lutei tanto, já cheguei até aqui, que não faria sentido desistir.
– Nesses momentos piores, a que é que se agarrou?
– Aos amigos, às pessoas mais próximas. Tento falar o máximo de vezes possível com a minha família. A minha mãe apoia-me muito e faz imensas viagens para Lisboa, mas não é a mesma coisa. Tenho um irmão e duas meias-irmãs, uma delas já está com sete anos e chego a vê-la apenas duas vezes por ano.
– Este último ano veio dar outro alento à sua carreira?
– Sim, foi um ano muito positivo. Estou numa fase boa e só espero que continue assim.
– Além da novela
Laços de Sangue, fez também a série
Lua Vermelha, que proporcionou uma experiência por certo diferente…
– Muito diferente, mesmo, mas muito aliciante. A minha personagem era uma vampira má, traficante de sangue… Foi muito interessante fazer a pesquisa para este papel e dar-lhe, simultaneamente, um ar humano. Até a caracterização era exigente, pois qualquer parte do corpo que aparecesse tinha que estar muito branca. Além disso, aprendi a lutar, que não sabia. Foi um trabalho enriquecedor. Cresci imenso com este papel, porque fiz uma coisa que nunca pensei fazer.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.