Há cerca de três anos,
Sónia Balacó, de 26 anos, decidiu trocar o conforto do lar em Lisboa pela atarefada e louca vida de Londres. Correu atrás de um sonho, lutou, e os resultados vão aparecendo. Prestes a ser lançada está uma longa-metragem,
Against, da qual é protagonista, no papel de Sophie. Já disponível em Portugal está o novo jogo da saga James Bond, onde interpreta uma sensual sargento do exército. Mas muito está ainda para vir, acredita a atriz, que diz não ter muitas dúvidas de que o seu investimento na carreira vai dar ainda mais frutos.
– Em 2008 decidiu arriscar uma carreira em Londres, onde vive ainda. Como tem corrido essa aventura?
Sónia Balacó – Tem corrido muito bem. Parti em 2008, em 2009 fiz um espetáculo de teatro que correu muito bem e, entretanto, fiz uma personagem para o jogo de computador do James Bond, chamado Golden Eye, e tenho ainda uma longa-metragem por sair. O saldo é positivo.
– Contracenou com o Daniel Craig, o último James Bond…
– Na verdade, não, porque as gravações são feitas individualmente. Representei sozinha no meio de muitas câmaras, porque é um sistema diferente de gravar um filme. Parece até um pouco bizarro e antinatural. Mas conheci todos os outros atores, ele foi o único que nunca apareceu quando estávamos a gravar. Faz sentido… [risos]
– Foi um trabalho importante e compensador para si?
– Foi espetacular. Primeiro, pela experiência do
motion capture, ou seja, um tipo de gravação diferente que capta todos os nossos movimentos. Depois, ver-me vestida daquela maneira, com uma série de sensores e uma roupa bem diferente. Por fim, descobrir que consigo fazer aquilo, porque não é fácil representar sem ter alguém à frente. Não tem nada que ver com o que estudei ou já fiz. E senti-me orgulhosa por ter sido escolhida por aquela empresa gigante que faz o James Bond.
– E foi um pouco o reconhecimento de que valeu a pena apostar em Londres…
– De alguma forma, sim. Ir para Londres foi um pouco uma loucura, porque não tinha contactos nenhuns na minha área. Demorei um ano a perceber como tudo funcionava, como arranjava um agente, como sabia dos
castings… Só em 2009, quando fiz o espetáculo, é que comecei a dominar melhor o mercado. Aquele ano que passei a tentar perceber tudo, tendo já deixado a família, os amigos, em Portugal, não foi fácil.
– Foi difícil separar-se da família e dos amigos?
– Foi. Eu sempre quis ir, e nunca me arrependi. Mas saber que perdi momentos importantes, isso foi um pouco duro.
– O que combateu com muitas viagens a Portugal…
– [risos] Muitas, mesmo. Mas também muitas visitas de familiares e amigos em Londres.
– Também não deve ter sido fácil deixar o seu namorado ou, pelo menos, ficar mais longe dele…?
– Esse é um assunto de que preferia mesmo não falar.
– Mas concorda que, em geral, é difícil manter um relacionamento à distância?
– Hoje em dia existem muitas formas de comunicação… Há o Skype, as viagens não são assim tão caras… Quando há vontade, existem sempre soluções.
– Londres é uma cidade romântica?
– Sim, Londres é uma cidade muito bonita, se estivermos dispostos a suportar o frio e mentalmente preparados para não ter sol durante semanas. Existem programas lindos para fazer: as viagens de barco, as pontes…
– Como é a sua vida em Londres?
– Quando tenho
castings, não faço mais nada, porque sou obcecada e fico a trabalhar dias a fio para as audições. Quando não tenho, estou a estudar, vou ao ginásio e vou muito a concertos e museus. Tento enriquecer-me ao máximo e ter uma vida cultural muito ativa. Até porque a cidade oferece isso, em Londres tudo acontece.
– E no campo pessoal, já fez muitas amizades?
– Agora sim, tenho amigos. Quando vim para Londres só conhecia uma pessoa que nem era minha amiga diretamente, mas amiga de amigos. Foi mesmo uma loucura. Agora tudo é diferente e saio imenso com eles. Moro na zona este, considerada a mais
cool da cidade, e onde temos imensos programas sempre. Adoro, por exemplo, ir tomar o pequeno-almoço ao Broadway Market.
– E viver sozinha, como é?
– Bom, já fazia isso em Lisboa, porque os meus pais são de Peniche, pelo que não notei assim tanto essa mudança. O que me fez mais diferença foi deixar de ter carro. Sobretudo no início, porque depois habituei-me e aqui as coisas são diferentes e o metro é fantástico.
– E a comida? Por vezes o que se come em Inglaterra obriga a umas dietas mais frequentes, ou não?
– Nunca tive propriamente problemas com isso, porque a minha estrutura nunca me permitiu grandes dietas. [risos] Entretanto, tinha deixado de comer carne, mas tive de voltar a comer, porque a minha médica me obrigou, e isso foi mais difícil. Em Londres é muito difícil levar uma alimentação saudável e boa sem comer carne.
– Não comer carne foi uma decisão que segue a sua linha de pensamento no que diz respeito à defesa dos animais?
– Gosto de achar que sou bastante consciente da minha posição no mundo e penso imenso na forma como vivemos todos em comunidade, pelo que quando há coisas que não me agradam, não tenho problema nenhum em manifestar-me, que é o caso da defesa dos animais.
– Esse sonho de vencer em Londres trouxe também momentos maus, frustrações?
– A única maneira de conseguirmos vingar e ter sucesso como ator no estrangeiro é saber que muita coisa vai correr mal, mas temos que nos aguentar com isso. Eu tinha, e ainda hoje tenho, a certeza absoluta de que vai correr bem. É frustrante, claro, estar num
casting, sabermos que podíamos fazer aquilo e acharem que não somos a pessoa certa. Agora acho que as coisas não vão correr mal, mesmo porque invisto constantemente e muito nesta minha opção. E porque me sinto cada vez mais confiante no meu trabalho, nas minhas capacidades enquanto atriz.
– Não tendo pessoas mais chegadas por perto, como consegue lidar com os momentos mais difíceis?
– O exercício físico costuma ajudar a descarregar as más energias. E trabalhando muito. Quando não estou bem, vou trabalhar, seja com textos ou a fazer exercícios. Sou uma pessoa muito reservada e introspetiva nesse sentido, acredito que a força vem de dentro, pelo que nos momentos mais complicados tenho tendência a manter-me sozinha.
– E a moda, desistiu mesmo dessa vertente?
– Sim, a moda acabou. Comecei muito cedo, aos 14 anos, por isso foram 11 anos a trabalhar na área. Diverti-me imenso, mas chega. Até porque a moda sempre foi o meu plano B. O meu sonho sempre foi ser atriz.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.