Foi a primeira vez que se afastaram para tão longe e durante tanto tempo da filha mais nova,
Maria, que completa um ano no próximo dia 27 de dezembro. Apesar das saudades,
Bárbara Elias, de 35 anos, e
Nuno Graciano, de 41, tentaram aproveitar ao máximo estes três dias que há muito tinham prometido aos filhos
Gonçalo, de 12 anos,
Tomás, de nove – fruto do primeiro casamento do apresentador – e
Matilde, de cinco. Um fim de semana prolongado que começou com uma rápida visita ao centro de Paris – durante a qual se encheram de coragem e desceram os 1655 degraus da Torre Eiffel – e que terminou com dois dias de diversão e magia na Disneyland Paris.
– Apesar do entusiasmo de todos, a verdade é que esta visita ao mundo da fantasia foi uma estreia apenas para a Matilde e para a Bárbara…
Nuno Graciano – É verdade. Eu estive na Disneyworld, em Orlando, com o meu pai, quando tinha a idade que o Gonçalo tem agora, e adorei. Lembro-me perfeitamente de tudo. Depois vim aqui com os meus filhos, quando o Gonçalo tinha cinco anos e o Tomás era bebé. Ou seja, o Gonçalo lembra-se de muito pouco e o Tomás de rigorosamente nada. Só a Matilde é que nunca tinha vindo. Foram dois dias maravilhosos, e divertimo-nos todos imenso.
– Custou-vos estar estes dias afastados da Maria?
– Sim, embora não me custe tanto como à Bárbara, e explico porquê: primeiro, porque é o meu quarto filho, depois, porque, sendo um pai separado, habituei-me às ausências deles. E neste caso a Maria foi um bocadinho prejudicada a favor dos três irmãos, mas haverá no futuro situações em que será ela a beneficiada. Em famílias numerosas, como a nossa, temos que nos habituar a ceder a uns em detrimento de outros, e vice-versa. E eles próprios vão-se habituando a isto. Há uns anos tinha a mania que o que dava a um tinha que dar a todos, mas, à medida que os filhos vão nascendo, vamos percebendo que não é bem assim. Hoje é para um, amanhã será para outro. Neste caso, seria ridículo trazer a Maria porque, além de ser muito pequena, iríamos estar muito mais limitados.
Bárbara Elias – A mim custou-me muito. Estou habituada a estar sempre com ela, custa-me trazer uma e não trazer a outra, mas a verdade é que me estão a saber lindamente estes dias de descanso. Os primeiros meses de uma criança são muito cansativos e sabe-me bem estar uns dias sem bebés, sem colos ou choros.
– O Nuno tem dois rapazes e duas raparigas. É a família com que sonhou?
Nuno – É, embora achasse piada se o número fosse mais díspar, pois tenho dois casais. No entanto, estou quase a fazer 42 anos e, embora continue a ser paciente para os filhos, também me tenho tornado mais egoísta. Ou seja, sinto que preciso do meu tempo e ter crianças muito pequeninas dá imenso trabalho, temos de partilhar com elas muito tempo. A família é a maior riqueza que pode haver, mas esse egoísmo faz com que não me apeteça ter mais filhos, até porque acabo por não os gozar todos. Se forem muitos, às tantas perdemos a individualidade de cada um deles. Ser pai obriga-nos a estar atentos aos seus sinais e, neste momento, tenho quatro a darem-me sinais, fora a restante família. A avó da Bárbara tem 84 anos, a minha avó tem 92, os nossos pais vão a caminho dos 70, portanto, também já nos obrigam a ter alguns cuidados e atenções, e não nos podemos demitir do papel de filhos ou de netos. Não podemos nem devemos focar-nos só nos filhos e esquecer as pessoas mais velhas.
– Para a Bárbara, duas filhas é a conta certa?
Bárbara – A Maria só nasceu há 11 meses. Se calhar, daqui a um ano ou dois, já me apetece ter outro! Logo se vê…
– Entretanto, a Maria está quase a começar a andar…
– Sim, está naquela fase em que se quer pôr de pé, bate com o queixo em todo o lado, quer mexer em tudo, é uma chata, mas estou a morrer de saudades dela!
Nuno – Não concordo com nada disso. Como a Bárbara tem metade dos filhos que eu tenho, é inexperiente! [risos] Portanto, ela não dá valor àquilo que, de facto, tem valor. Quando temos um bebé, o mais importante é que seja saudável, e todos os pais percebem a importância daquilo que vou dizer: em 11 meses, a Maria só teve uma vez – e um dia – febre. O meu filho Gonçalo, por exemplo, esteve dez dias internado quando tinha apenas uma semana e meia de vida… Depois, a Maria tem as duas melhores características que um bebé pode ter: come lindamente e dorme, invariavelmente, dez a 12 horas por noite. Portanto, o ser chata para além disto que referi são pormenores. Um bebé que dorme noites inteiras, que se alimenta tão bem, e depois passa grande parte do dia a rir, e a outra parte do dia obviamente com as chatices inerentes a um bebé, como as birras, é formidável. Claro que já se nota que a Maria tem uma personalidade fortíssima, como a mãe, o que não é muito bom… vai ser problemático para o futuro dela. Mas depois tem a outra parte do dia em que está sempre a rir, como o pai, portanto, reparem como esta criança tem características fabulosas. [risos]
–
Estamos a chegar ao Natal. Como é que se organizam para passar a véspera e o dia de Natal?
– Organizamo-nos bem, dentro das possibilidades das famílias separadas. Os pais da Bárbara são separados, os meus pais são separados, e eu separado sou. Isto obriga a uma logística diferente, em que inevitavelmente as crianças estão um ano comigo e outro com a mãe. Damos mais importância à véspera, que é quando trocamos os presentes. Este ano optámos por não trocar presentes entre os adultos, porque somos uma família muito numerosa e acabamos por nos dispersar em compras para tantas pessoas. Portanto, fazemos um sorteio e cada adulto fica de dar só um presente a outro adulto, porque a crise nota-se em todas as famílias, e na minha família não há ninguém com excesso de liquidez! [risos] Fomos obrigados a delinear algumas estratégias para enfrentar estes tempos de crise…
Bárbara – Acho que, de há uns anos para cá, o Natal se tornou única e exclusivamente uma época consumista. O espírito do Natal deixou de ser estar em família.
–
Com tantos filhos e sobrinhos, estipulam um limite máximo de valor ou número de presentes?
– Para os meus filhos estipulo um limite, naturalmente, porque, a meio da abertura dos presentes, que são sempre imensos, começo a recolher para um saco a maioria deles e depois vou-lhos dando ao longo do ano, nos dias em que estão doentes ou mais aborrecidos. Assim, acabam por tirar mais partido deles.
Nuno – Há sempre o presente que cada um deles pede e, normalmente, recebem-no. Como são bons filhos, todos cumprem os resultados escolares, são amigos entre irmãos e tentam respeitar as pessoas que os rodeiam, normalmente acabam por receber aquele presente especial que pediram. Mas depois é como a Bárbara diz, tudo se esgota aí. Havendo excesso, vai-se guardando.
– E a árvore de Natal? Parece que começam a decorá-la em família, e que a Bárbara acaba por ficar sozinha a colocar as últimas bolas…
Bárbara – Sim, eles põem uma bola cada um, e eu tenho de terminar o resto.
Nuno – Os miúdos vão naturalmente desistindo de colocar bolas, mas eu fico com o pior trabalho, que é refazer a iluminação de Natal… Isto desde o ano em que a Bárbara resolveu cortar o fio da iluminação da árvore por estar emaranhado. Por isso, optámos por deixar a iluminação na árvore de um ano para o outro!
–
A vossa relação poderia não resultar, uma vez que ambos têm personalidades muito fortes, mas pelos vistos conseguiram encontrar uma forma de entendimento…
Bárbara – Somos, de facto, muito parecidos, e às vezes chocamos um bocadinho, mas também acho que o que não nos mata torna-nos mais fortes. É o que tem vindo a acontecer.
Nuno – Seria muito mais fácil e cómodo desistir. Em todas as relações, sejam elas de amizade ou entre pais e filhos, é muito fácil desistir. É muito mais trabalhoso lutar, continuar a acreditar, e tentar ir criando novas sinergias para que as coisas sejam possíveis. Dá imenso trabalho e às vezes não nos apetece ou não temos paciência, e nessas alturas as pessoas pensam em desistir, mas depois, se tudo isto for acompanhado de um forte sentimento, então vale a pena lutar, vale a pena continuar a caminhar.
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.