Dois dias antes do início do Rock in Rio-Lisboa 2010,
Roberta Medina sofreu uma violenta queda de cavalo que a deixou imobilizada até há bem pouco tempo. Fraturou uma vértebra e chegou a temer consequências mais graves. Passado o susto, a diretora daquele festival de música no nosso país regressa agora ao ativo e conta pela primeira vez tudo o que passou no último mês e meio. Com ela tem estado
Diogo Gama, recuperador físico, que explica como está a ajudar Roberta.
"Estamos a fazer recuperação física com a Roberta, que é como que um complemento à fisioterapia. Ela esteve imobilizada algum tempo e perdeu muitos movimentos. No fundo, agora estamos a trabalhar para recuperar tudo isso. E ela tem sido incansável, está ao nível de um atleta de alta competição", explica Diogo, que trabalhou recentemente com os jogadores do Real Madrid.
– Como aconteceu essa queda de cavalo?
Roberta Medina – Fomos apresentar os resultados do projeto social na Tapada de Mafra, que foi onde plantámos as 19 mil árvores, e subimos à floresta para mostrar isso mesmo à imprensa. Como sabem que adoro cavalos, desafiaram-me a montar. Subi ao cavalo, eu e o
Ricardo Carriço, mas era mais para a brincadeira, para a fotografia. Íamos andar apenas 50 metros. Mas eu não gosto de andar a passo nem a galope, gosto de trote. E perguntei se podia fazer isso ou se a égua ia disparar. Nem ouvi a resposta. E ainda por cima os estribos não estavam ajustados para mim! A égua disparou, mas ninguém percebeu se eu estava a dominá-la ou não. Desapareci e os militares acabaram por sair todos à minha procura. Ainda galopei uns dois quilómetros antes de cair. Na altura estava assustada, mas acreditei que ela ia parar. Reduziu um pouco a velocidade, mas de repente perdi os estribos e caí para trás. Fiquei cheia de dores e muito assustada com a pancada na coluna.
– Viveu momentos de pânico?
– Bom, eu conseguia mexer tudo, mas tinha muitas dores. E como a ambulância demorou um pouco, fiquei mais nervosa e começou a cair aquela lagrimazinha, porque as dores aumentavam a cada momento. Quando chegaram, levaram-me para o Hospital de Torres Vedras. Ainda estava muito nervosa. Valeu muito o apoio do Ricardo e dos amigos que estavam por ali. No hospital, depois do raio-x, veio o
Dr. Sérgio Azevedo falar comigo, e foi impecável. Olhou-me nos olhos, disse-me que tinha fraturado a vértebra L1 e que achava que não ia ser necessária uma cirurgia, mas que teria de ser reavaliada pelo médico que me iria acompanhar. Aí comecei a respirar de alívio e, logo a seguir, chegaram o meu pai e o meu irmão, e tudo ficou mais calmo. Depois fui transferida para o Hospital dos Lusíadas, onde tinha estado três semanas antes, porque são parceiros do Rock in Rio, e lembrei-me que podia ir para lá, porque adorei as condições e as pessoas são fantásticas.
– Quanto tempo esteve internada?
– Cinco dias. Em que não podia sentar-me ou levantar-me, enfim, não podia fazer nada. Foi quando dei verdadeiro valor aos enfermeiros, de que normalmente nem nos lembramos. Depois fui tratada pelo
Dr. Bordalo Amado, que foi impecável em tudo.
– Foi importante ter cá toda a família?
– Sim. E, coincidência das coincidências, a minha mãe ia chegar nessa quinta-feira, sendo que o acidente aconteceu na quarta. A mãe faz muita falta, mas nem é só a mãe, é qualquer pessoa que se dedique a nós a cem por cento. Quando se fala de casamento, de namoro, enfim, o ideal é ter um nível de relação em que a pessoa não depende de nós, nem nós da pessoa, em não termos que fazer tudo juntos, mas em que na hora certa sabemos que há alguém que pára tudo por nós.
– Sentiu falta de ter esse namorado, esse marido?
– Aí está. Não senti, porque a minha mãe, o meu pai, o meu irmão e os meus amigos estiveram lá. Por ser na altura do Rock in Rio, houve muita gente que veio também, cheguei a ter no hospital a minha equipa inteira. E depois, em casa, foi igual.
– É muito otimista…
– Tenho dois lemas na vida: tudo é para melhor e nada acontece por acaso. Partindo dessa perspetiva, a vida queria dizer-me alguma coisa com o que aconteceu. E houve uma coisa muito importante, que foi um resgate de relações, de pessoas das quais me fui afastando. Fui bombardeada por carinho e amor de pessoas a quem não me dedicava assim tanto…
– Ficou triste por não poder estar na abertura do festival?
– Achei que ia ficar muito triste e fiquei emocionada. Achava que ia ter uma crise de choro gigante! Mas fiquei divertidíssima, vi o festival pela SIC, e nunca tive vontade de chorar. E estava sempre a receber fotos e mensagens no telemóvel a contarem tudo. Pela primeira vez vi o festival pelo lado da emoção e não do stresse.
– Entretanto, já passou mais de um mês e está em franca recuperação…
– Sim, estou numa fase em que ainda faço quatro horas de exercício por dia, duas e meia com o Diogo Gama, e uma e meia de fisioterapia. Mas aproveito o meio do dia para ir começando a trabalhar. E cada vez vou estando mais presente no escritório. Já estive na Polónia, onde acertámos tudo para levar o festival para lá em 2013. E agora vamos concentrar-nos no regresso ao Rio de Janeiro.
– Para quando a recuperação total?
– No final de setembro já posso fazer tudo.
– Vai ser um verão difícil…
– Não… adoro.! E nem penso ir para o Brasil, só irei por causa de trabalho. Adoro estar cá e passar cá o verão. E já estou quase sem limitações.
– Lisboa passou mesmo a ser a sua cidade?
– Sim, Lisboa é uma opção de vida, não estou cá por trabalho. Vivo em Portugal há sete anos e quero continuar cá. Vou ao Rio trabalhar, mas mesmo assim vou fazer quase tudo a partir daqui. Tenho muitos amigos cá e consigo gerir muito bem a distância da família. A minha vida está aqui em Portugal. E quero estabilidade na minha vida. Quando aparecer uma pessoa, ótimo, será muito bem-vinda; quando for para me casar ou ter filhos, será igualmente ótimo.
– Essa era a minha próxima questão… Continua solteira?
– [risos] Digamos que estou em testes, experiências, mas pessoa firme, não. [risos]
*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.