Eleita pelos leitores da CARAS a mulher portuguesa mais elegante de 2009,
Catarina Furtado, de 37 anos, é o exemplo de quem consegue conjugar sem dramas a vida pessoal com a profissional. Mãe de
Maria Beatriz, de três anos e meio, e de
João Maria, de dois, e mulher do actor
João Reis, a apresentadora garante que a família é a prioridade, mas a sua profissão, enquanto apresentadora e actriz – agora no papel de protagonista na nova série da RTP,
Cidade Despida -, também lhe é imprescindível.
Serena e feliz, Catarina conversou com a CARAS sobre o seu conceito de elegância, mas também sobre a forma como os seus filhos a tornaram mais segura de si própria.
– Para se ser elegante há todo um conjunto de elementos que o proporcionam, incluindo a família…
Catarina Furtado – Sim, a educação que se teve tem, evidentemente, influencia em tudo e, por isso, também na forma como nos projectamos na vida sob o olhar dos outros. Associo a elegância à boa educação, e a boa educação não tem que ver com os colégios onde estudámos, tem que ver, sim, com a maneira de estar em qualquer situação, atento aos outros e às necessidades dos outros, quaisquer que eles sejam. Não se ser demasiado obsessivo consigo próprio, no fundo, entre muitas outras coisas, não se levar muito a sério, mas tentar ter sempre uma postura de confiança e optimismo perante a vida. Gostar de gostar e andar apaziguada interiormente. As opções que se tomam e os ‘nãos’ que se consegue ir dizendo são decisivos na formação da personalidade. Não estou a querer dizer que sou o que acabei de definir, mas acredito que uma mulher elegante tem de ter estas características. É evidente que ao mesmo tempo há todo um lado exterior e físico que também faz parte.
– Quando se olha ao espelho, gosta sempre do que vê?
– Vou ser pouco original: tenho os meus dias. Mas felizmente os meus filhos arranjaram-me um novo espelho. Os olhos deles são muito tolerantes e imensamente parciais! Como todos os filhos, eles gostam de mim de qualquer maneira. [risos]
– Não há como sentir-se desanimada…
– São o melhor espelho do mundo, porque de facto com eles estamos sempre bem, sempre bonitas, e mesmo que não estejamos, são os primeiros a dar opiniões sobre como podemos ficar melhor! A minha filha já dá muitas e pertinentes sugestões!
– Agora está com uma vida profissional que lhe ocupa muito tempo. Como tem conseguido conjugar o facto de ser mãe, profissional, mulher, dona de casa?
– A série
Cidade Despida, de 13 episódios, que estou a gravar para a RTP, foi um desafio maravilhoso que surgiu nesta altura da minha vida. É óbvio que nestes dois meses tenho uma vida de loucura. Acabo por abdicar de horas de sono, mas nunca deixo de contar a história da noite aos meus filhos, porque nem eu nem eles dormiríamos bem.
– Não deve ser fácil equilibrar tudo…
– Não acredito em mães perfeitas, em profissionais perfeitas, em mulheres perfeitas. Não acredito em nada disso! Portanto, hei-de falhar nessas funções e sei e sinto que de vez em quando falho, mas estou mais tolerante comigo. É esse o truque…
– Sabe, então, aceitar os erros…
– Sim, e assumo-os. Digo que mais do que isto não consigo. Eu abraço as áreas todas por onde navego com a mesma paixão, e se houvesse mais tempo, mais tempo dedicaria a cada uma delas, sempre partilhado. Os meus filhos são a prioridade, mas sei que sou muito melhor mãe se estiver a fazer o que me traz muito cansaço, mas, acima de tudo, prazer. Eles sentem isso e serão cúmplices. Falhar não é nenhum drama. Era terrível se eles achassem que tinham uma mãe perfeita, porque no dia em que falhasse, o chão deles desapareceria e a sua auto-estima ficaria afectada. Não quero isso, portanto, tento seguir o meu instinto.
– É fácil encontrar o caminho para preparar os seus filhos para o futuro?
– Sigo a minha intuição. A intuição tem uma relação directa com o meu coração e muitas vezes deixo simplesmente fluir. Provavelmente passo alguns receios, umas vezes disfarço, outras não, vai sendo assim.
– O João também está numa fase de muito trabalho, com os ensaios de uma peça. Andam desencontrados…
– É verdade, os fins-de-semana ou as folgas são os nossos refúgios, e são milagrosos.
– E alguma vez aconteceu as crianças sentirem a vossa falta e pedirem mais atenção?
– Não. Acredito que quando há um núcleo de estabilidade grande, que não passa pela permanência, mas sim por aquilo que nós lhes transmitimos nas entrelinhas, isso não acontece. Têm uns avós óptimos e uma família unida. A série
Cidade Despida está a exigir muito de mim durante estes dois meses, mas estou feliz, e eles vêem isso.
– Essa será também uma forma de educação, no sentido em que tanto a Catarina como o João lhes ensinam que a vida tem várias vertentes…
– A minha mãe, como professora do ensino especial, e o meu pai, como jornalista, sempre trabalharam e sempre vi o prazer, o esforço, o empenho, a dedicação, o sacrifício dos meus pais. Provavelmente está nos genes, porque só consigo olhar para mim enquanto alguém que é referenciada pelo trabalho que tem feito ao longo dos tempos. Pode ser ou não apreciado esse trabalho, mas é o trabalho que me obriga à exposição pública e, nesse aspecto, continuar a desafiar-me é uma necessidade. Claro que é uma batalha em várias frentes: a apresentação, a representação, os documentários e o trabalho enquanto embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População. Quero investir cada vez mais em formatos como o Príncipes do Nada e Dar Vida Sem Morrer.
– Essa vertente solidária está muito presente na educação dos seus filhos? Eles têm noção de que há crianças diferentes deles?
– Muitas vezes não é preciso dizer, mas sim fazer e mostrar. Não são precisas grandes teorias. É um dever.
– Gostaria de ter mais filhos?
– Não está posto de parte. Por mim, já tinha começado há mais tempo. [risos]
– Quem não conheça a Catarina e o João pode julgar, pelas aparências, que são muito diferentes…
– Somos muito mais semelhantes do que possa parecer e é no nosso objectivo de vida que nos encontramos. É evidente que eu tenho um lado de maior exposição pública por opção, que tem que ver com a minha consciência plena de que posso fazer alguma coisa, pondo essa ‘condição’ ao serviço de causas nas quais acredito profundamente. É impossível para mim não continuar a viajar fazendo aquele tipo de programas, se a RTP continuar a manifestar interesse. É impossível abrandar o meu ritmo, porque acredito que existem sinergias que têm de ser feitas, e eu sou uma empreendedora por natureza. Tento que tudo o que tem que ver com a minha profissão possa reverter em qualquer coisa benéfica para as tais causas. Porque, para mim, viver só faz sentido assim. É mais forte do que eu, não consigo de outra forma. Dar e receber. Não me pronuncio em relação ao João, porque somos diferentes, mas na nossa conduta de vida, encontramo-nos.
– Como tem sido este último ano?
– Tem sido muito bom. Não há nada de que me possa queixar, a não ser desejar as melhoras ao meu avô, que tem 86 anos e tem estado menos bem. A nível profissional, não posso pedir mais, mas a verdade é que também trabalho para que assim seja. Claro que há o factor sorte, mas também depende da forma como encaramos a vida e como trabalhamos. Tenho recolhido aquilo que tenho semeado.
– O que é que a vida lhe tem trazido?
– O passar dos anos tem-me trazido mais certezas, mas também mais dúvidas. Uma das certezas que tenho é a de que há prioridades na vida e, por isso, as questões da coerência e dos valores são para mim fundamentais. Ser espontânea sem receio do que sou é essencial. Depois, há coisas de que tenho perfeita noção, como o facto de que, sendo uma figura pública, isso não exigir que a minha vida tenha de ser um livro aberto, e é nesse livro mais fechado que vou buscar o resto, a segurança, a estabilidade, a convicção de que posso fazer qualquer coisa nesta vida.
– Esse ‘viver bem na própria pele’ sempre existiu ou foi adquirido com a maturidade?
– Acho que sempre existiu, sempre tive uma energia muito positiva. Não consigo ver ninguém em baixo e facilmente sinto quando isso acontece, o que tento converter em positivismo. Sempre fui assim e é também essa a minha forma de trabalhar com as equipas. Acredito que há dias menos bons, mas nunca acho que é o fim do mundo. Fim do mundo são coisas muito mais graves do que a maioria dos ‘dramas’ que as pessoas fazem no seu dia-a-dia. Esses é que roubam sorrisos.
– Parece muito serena…
– Isso vem também dos filhos. É o lado maravilhoso de os ter, mas sei que viverei o resto da vida com o maior medo do mundo de que alguma coisa lhes aconteça.
– E receio da velhice, das rugas, tem?
– Não é a parte mais simpática e não me apetece nada, mas faz parte. E a CARAS é um bom exemplo: as demais elegantes que venceram são um pouco mais velhas do que eu e estão maravilhosas. Isso dá-me esperança. [risos]
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