Cresceu a ouvir e a conviver com alguns dos mais importantes intérpretes do fado e, aos 33 anos,
Pedro Moutinho é já um nome incontornável da nova geração de fadistas, tendo sido galardoado com o Prémio Amália Rodrigues em 2008. Filho de fadistas,
Luísa e
Manuel Paiva, e irmão de fadistas,
Camané e
Hélder Moutinho, Pedro tem conseguido demarcar o seu caminho da restante família. Foi no dia anterior ao do seu aniversário, e antes de partir para Istambul, onde celebrou a data, que o fadista conversou com a CARAS e contou como tem sido este percurso e como houve uma altura da sua vida em que tentou
"fugir" ao fado, através de uma banda de
covers com a qual cantava
rock.
– Quando é que sentiu que o fado lhe dizia alguma coisa?
Pedro Moutinho – Acho que desde criança, pois acompanhava os meus pais para as casas de fados e adormecia em cima das mesas a ouvir grandes nomes a cantar fado.
– Sempre sentiu que o fado era o seu caminho?
– Não. Houve uma altura em que o fado era uma brincadeira. Em criança, já gostava muito de cantar, mas era uma coisa muito leve. Comecei a cantar com sete anos, com letras próprias para crianças, a brincar, nos fados tradicionais, e só mais tarde, aos 16 anos, é que percebi que era o fado o caminho que gostaria de seguir. Na minha adolescência afastei-me um pouco do fado e estive virado para o
rock, tinha uma banda de
covers, mas o bichinho já lá estava. Lembro-me que foi a fase da minha vida em que mais saí com o meu pai e ansiava pelo fim-de-semana, que era a altura em que percorríamos as casas de fados.
– Foi difícil perceber isso? Travou alguma luta interna para aceitar o seu caminho, ou sempre soube que seria assim?
– No fundo, sempre soube que seria esse o meu caminho, apesar de saber que iria correr alguns riscos e que seria algo que teria de construir.
– Apesar de ser filho e irmão de fadistas, conseguiu delinear um caminho distinto. Foi um percurso difícil?
– Nada é fácil, tive de crescer enquanto fadista, criar o meu próprio estilo e ir à procura do meu próprio caminho. E acho que fui ganhando maturidade ao longo dos anos, o que também me distinguiu numa família de fadistas.
– Considera que são muito diferentes uns dos outros?
– Sim, bastante. Cada um tem o seu estilo, as pessoas identificam-nos facilmente, mas os genes são os mesmos, há coisas que não podem fugir muito disso.
– Segundo sei, vocês são muito unidos e cultivam realmente o sentido de família. Isso é importante para si?
– Muito. Com a minha família sinto-me mais seguro, é a minha base emocional. Se qualquer coisa corre mal, sei que enquanto os tiver perto de mim, tudo será pelo melhor.
– Já recebeu alguns prémios bastante importantes. Cada vez que isso acontece, sente o peso da responsabilidade aumentar?
– Claro que sim, mas também me dá força para querer fazer mais e melhor. Gosto muito de cantar, mas também gosto muito de escolher o reportório, os compositores de que gosto e que depois escrevam para mim, é também um trabalho que me dá imenso prazer. Sinto vontade de fazer coisas boas para mim.

– Há muito bons fadistas que não se tornam conhecidos do grande público. Alguma vez teve receio que isso lhe acontecesse?
– Acho que sim, invisto muito na minha carreira. Claro que as casas de fado ainda hoje são importantes e são uma escola, mas acho que quando começamos a investir e a ir em busca do grande público, há sempre aquele medo de que isso não aconteça. Trabalho muito para que isso aconteça e, devagar, tem dado certo.
– Há quem diga que o fado é um estado de alma, concorda com isso?
– Concordo. O fado tem muito que ver com o meu modo de vida, com o que tenho aprendido. Tem sido um percurso de crescimento, e acho que isso é muito importante para quem interpreta fado. Só canto coisas com que me identifico, mas também é muito importante que passe uma verdade para as pessoas. Para mim é um modo de vida, mas também um estado de alma.
– Em 2009 lançou o seu terceiro álbum,
Um Copo de Sol. Em que diverge dos outros?
– O meu segundo disco, Encontro, correu muito bem e recebeu o Prémio Amália Rodrigues em 2008. Era um disco mais fechado, com temas mais tradicionais e com poemas desde
Fernando Pessoa a
António Botto,
António Lobo Antunes… Foi um disco que marcou um pouco a minha vida e, desta vez, tive de pensar bem no que iria fazer, pois já tinha uma maior responsabilidade. Quis contar em pequenos fados o que foram os meus últimos 15 anos. Tentei que este fosse um disco muito pessoal, com histórias que se passaram na minha vida. Este disco tem uma linguagem muito simples e directa, o que também procuro sempre para conseguir chegar às pessoas.
– Foi um processo moroso?
– Muito. Demorei dois anos a ter o reportório todo. Arrisquei muito nos compositores, alguns que nada têm que ver com o fado, como é o caso da
Amélia Muge e do
Tiago Bettencourt.
– Quando está em palco, canta para si ou para o público?
– Este é um disco muito pessoal. Canto sempre para mim e acho que dessa forma chego ao público.
– Com uma vida tão realizada a nível profissional, não sente vontade de investir mais na vida pessoal? Não faz parte dos seus planos casar-se e ter filhos?
– Claro que faz parte dos meus planos para um futuro, mas por enquanto não tenho como pensar nisso. Estou numa fase em que estou mais comigo, não tenho ninguém e também não ando à procura. Mas é claro que é algo que quero para a minha vida, com a idade já começo a sentir isso, mas acho que é algo que não se procura e que se encontra quando menos se espera.
– Mas assim também pode dedicar-se mais à carreira…
– Sim, a verdade é que tenho estado realmente mais virado para mim e com vontade de investir na minha carreira, pois preenche-me muito.
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