Talvez o facto do seu pai ter transformado episódios da História de Portugal em contos de encantar tenha sido determinante na escolha profissional de
Joana Bouza Serrano. Licenciada em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e tendo ainda frequentado o Mestrado em Arte, Património e Restauro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Joana, de 34 anos, escolheu ser professora. E é exactamente a disciplina de História que ensina, no Colégio do Sagrado Coração de Maria. Casada há 13 anos com o engenheiro civil
Pedro Bouza Serrano, com quem tem dois filhos,
Teresa, de nove anos, e
Francisco, de seis, estreou-se este ano como escritora com
As Avis, um livro em que destaca as mulheres que partilharam o trono com os nossos reis da segunda dinastia.
Embora tenha tido que sacrificar o tempo dedicado aos filhos para concretizar este projecto, Joana contou com o apoio de toda a família. A tal ponto que a filha, conhecedora da obra, elegeu a vida dramática de
Catarina de Áustria como a sua preferida, tocada que ficou pela quantidade de mortes que sempre rodearam a avó de D. Sebastião, o último rei da dinastia de Avis. O marido e os pais, por seu turno, foram os revisores atentos do manuscrito.
Presente de Natal didáctico obrigatório em muitos "sapatinhos" portugueses,
As Avis é um livro que facilmente encanta mesmo aqueles que torcem o nariz à História. Foi dele, e um pouco da sua vida de mãe e professora, que nos falou a autora.
– Quando é que decidiu que a História era o seu caminho?
Joana B. Serrano – Desde cedo que quis ser professora. Sempre gostei de História e no 9.º ano decidi, calmamente, que ia fazer o curso.
– É vocação de família?
– A minha mãe é professora de Português e Francês e lá em casa sempre tivemos um grande interesse pela História. O meu pai e o meu avô sempre nos contaram a História de Portugal e, por isso, foi um gosto que foi crescendo. Tivemos uma educação que nos levou a descobrir muitas coisas.
– Qual o verdadeiro aliciante de ser professora?
– Trabalhar todos os dias com pessoas diferentes, poder estar ligada à História e tentar transmitir o gosto pela disciplina aos mais jovens.
– Consegue dar aos seus filhos o mesmo tipo de educação que recebeu?
– Vamos tentando… Há que criar regras. Por exemplo, para criar o gosto pela leitura à Teresinha, autorizamos a televisão em apenas algumas horas do dia, e o mesmo se passa com o computador.
– É mais difícil ser mãe ou professora?
– É mais difícil ser mãe. Porque nos obriga a enfrentar desafios a tempo inteiro. Temos de nos ir adaptando às situações e idades. Como professora, tenho trabalhado sempre com jovens da mesma idade, entre os 12 e os 16 anos, e, enquanto mães, vemo-los crescer e passar por várias fases às quais temos de nos adaptar. Felizmente, embora muitas vezes leve trabalho para casa, a actividade de professora permite-me acompanhar o fim-de-tarde das crianças.
– Como é o vosso Natal?
– Dividimo-nos entre a família do meu marido, que está mais em Lisboa, e a minha, que está em Torres Vedras. Temos uma família grande e os meus filhos têm a felicidade de ter bisavós, avós, tios e padrinhos.
– Como nasceu o seu interesse pela dinastia de Avis?
– Comecei por fazer algumas leituras sobre os reis desta época e verifiquei que as rainhas apareciam na História, mas que quase não se falava nelas, e achei interessante destacá-las, contar a História na sua perspectiva, a vida das mulheres, o seu papel político, diplomático e de protectoras da arte. Tento, também, desvendar algumas curiosidades sobre a vida quotidiana da época, com algum destaque para a questão da maternidade e da educação dos filhos. O pano de fundo acaba por ser a História de Portugal e da Europa, dos finais do século XIV aos finais do século XVI.
– Qual das mulheres de Avis a apaixonou mais?
– Talvez D. Filipa de Lencastre, por ter vindo parar a Portugal [vinda de Inglaterra] e por ter marcado tão profundamente a dinastia de Avis. O rei confiou completamente nela.
– Como reagiram os filhos ao livro?
– Houve uma altura em que não gostavam nada dele, porque era o que lhes roubava a mãe, ficavam um bocadinho impacientes, principalmente a Teresa, que espreitava por cima do meu ombro para ver o que eu estava a escrever. Depois, leu o livro todo e gostou muito. Hoje têm os dois muito orgulho nele.