Filho do actor
Sinde Filipe e da actriz e produtora
Françoise Ariel,
Laurent Filipe, de 47 anos, cresceu sob a influência do teatro, mas talvez o facto da mãe sempre ter tocado piano lhe tenha deixado uma marca indelével no subconsciente, pois foi a música que acabou por seduzi-lo. Apaixonado pelo trompete, considera-o a sua primeira voz, e assume-se como um verdadeiro sonhador que pretende continuar a tocar, a ensinar e a aprender. Com trinta anos de carreira, comemorados este ano com um grande concerto no CCB, Laurent Filipe espera muito mais da música.
Paula Castelar, de 44 anos, não cresceu no mundo da música, mas a voz acabou por se tornar o seu instrumento de trabalho. Filha do locutor
Ruy Castelar e dona de uma voz de excelência, nunca a usou para cantar, mas usou e ‘abusou’ dela em rádio e televisão, meios onde se tem movido nos últimos anos. Numa pausa do pequeno ecrã, dedica-se agora a projectos paralelos, entre os quais a locução de documentários, que tanto prazer lhe dá, assim como à escrita. Nesta visita ao Castelo da CARAS, os dois falaram da sua história enquanto casal.
– Estão juntos há cinco anos e casados há três anos e meio, mas sei que se conhecem há muito mais tempo…
Paula Castelar – Conhecemo-nos há 18 anos. Era um assunto que estava por resolver há muito tempo… Resolvemos agora.
– Conheceram-se no meio profissional?
– Conhecemo-nos por meio de amigos. E por meio de várias felizes coincidências…
– Nunca perderam o contacto nesses 18 anos?
– Perdemos o contacto durante algum tempo, talvez até propositadamente.
– Entretanto, reencontraram-se e casaram-se…
Laurent Filipe – Sim. Nós equilibramo-nos muito bem, dividimos as tarefas. Também não temos nada assim muito complicado. Agora temos sorte, porque temos ambos muita liberdade e independência, o que ajuda bastante na relação.
– O facto de não terem filhos em comum – só a Paula tem um – reflecte-se na vida de casal?
Paula – Temos uma maior liberdade, mas não temos também esse lado gratificante que é ter uma criança. Mas substituímos isso bem, porque temos três sobrinhos lindos e, mais dia, menos dia, teremos um neto, porque o meu filho já tem 26 anos.
– O Laurent nunca sentiu vontade de ser pai?
Laurent – A minha vida nunca me permitiu ter filhos. Sempre tive uma vida muito nómada. Na verdade, nunca pensei muito nisso, porque tudo aconteceu muito depressa na minha vida. Só agora é que me estou a aperceber que passaram vinte anos num abrir-e-fechar-de-olhos. Curiosamente, apercebo-me mais do passar do tempo quando vejo as crianças dos meus amigos ou familiares.
– E como é a sua relação com o filho da Paula?
– Temos uma ligação, claro. Dou-me muito bem com o
João, porque falamos no mesmo plano… Nunca tive a experiência do que é uma relação paternalista, porque mesmo com os meus pais, sempre tive uma relação mais fraterna, talvez pela proximidade de idades.

– Essa vida nómada permite-lhe ter passaportes brasileiro, suíço e português…
– Penso que tenho um pouco de cada um desses países, desde a música à literatura ou até à minha própria vida. Tive a sorte de ter uma vivência multicultural. Apesar do Brasil, ou do meu ‘acidente brasileiro’, como lhe costumo chamar, ter sido um mero acaso. Nasci em S. Paulo porque o meu pai estava a montar uma peça de teatro lá. Confesso que sinto uma grande simpatia pelo Brasil, e tenho um grande orgulho por ter o passaporte brasileiro. Mas fiz muito pouco uso dele. Na verdade, só adquiri a nacionalidade portuguesa aos 30 anos. Depois do Brasil, foi a Suíça – porque a minha mãe é suíça – e só então Portugal.
– Que foi sempre a sua base…
– Portugal foi sempre o meu ponto de referência, embora tenha vivido nos Estados Unidos, em Espanha, na Suíça…
– Sente vontade de voltar a viver fora de Portugal, de partir para uma nova aventura?
– A ideia da aventura atrai-me sempre. Mas já dei tantas voltas, que gosto de saber que este é o sítio onde posso ‘pendurar o chapéu’. Mesmo que não seja Lisboa, Portugal é um cantinho que me agrada muito. Agora, também penso que se estivermos motivados por uma razão forte, seja o amor, o trabalho ou qualquer outro interesse, encontramos sempre um sítio que nos seja agradável, dentro ou fora do País.
– Acima de tudo, é bom ter alguém que possa ‘pendurar o chapéu’ ao lado do seu?
– Sim, isso é ou, pelo menos, que o limpe de vez em quando… [risos]
Paula – Desculpa? [risos]
– E se de repente o Laurent tivesse que mudar de país, seria complicado para si?
– Eu também não sou pessoa de ficar muito acomodada. Fui com um ano de idade para Angola, e só regressei a Portugal aos dez. Cresci lá e, mesmo mais tarde, andei sempre de um lado para o outro. Passei também uns tempos no Brasil. Eu gosto muito de viajar, e para mim viajar não é ir a um lugar, mas estar lá. Olhar para as pessoas, conversar com elas, viver aquilo que elas vivem. Por tudo isto, se calhar até achava bem engraçado viver fora de Portugal. Se bem que temos um refúgio em Portugal que é o nosso pequeno paraíso.
– Falou há pouco em ser avó. Vejo que não sente muito o peso da idade…
– Adorava ser avó. Fui mãe no dia em que fiz dezoito anos, entretanto, decidi não ter mais filhos. A minha relação com o João é muito de igual para igual. E essa coisa das idades é algo em que nunca pensei, porque quando tinha 20 anos já tinha amigos de 70. Esqueço-me de facto da idade, e talvez por isso as pessoas não me dêem os 44 anos que tenho.
Laurent – A idade mental é que é importante, a física influencia quando começamos a ficar debilitados. Mas tenho amigos com 79 e 80 anos que estão em excelente forma. Se calhar já não estão em condições de dar a volta ao mundo, mas estão óptimos.

– Como se tornou jurado do programa
Ídolos?
– Foi o
Manuel Moura dos Santos que sugeriu o meu nome e a produtora achou que poderia ser a pessoa certa, já que queriam alguém com conhecimento técnico para equilibrar as decisões.
– E como tem sido a experiência?
– A experiência tem sido óptima, porque é, acima de tudo, sociológica.
– É fácil dizer que não a um jovem que tem como sonho cantar?
– Não é nada fácil. Procuro ser tolerante e pôr-me na pele deles. Já me aconteceu ter que prestar provas no passado, em circunstâncias diferentes, claro, e o que lhes digo é que isto é mais uma brincadeira.
– Como vê a Paula a prestação do Laurent?
Paula – O Laurent é uma pessoa muito delicada e ali não é muito diferente. É ele próprio. Mas às vezes discordo das decisões dele, apesar de ser raro.
– Inverteram-se um pouco os papéis, porque normalmente é a Paula quem está mais ligada à televisão…
– É engraçado. Isto pode ser positivo, em especial para a carreira do Laurent, que já tem muitos anos, e que com este programa pode chegar a um outro público, em especial gente mais nova.
– Deu-lhe alguns conselhos sobre a forma de estar em televisão?
– Não. Conversamos muito sobre o que ele faz todas as semanas, mas o Laurent já fez muita coisa em televisão, desde novelas a publicidade.
Laurent – E aqui tenho um papel mais estático, estou sentado atrás de uma secretária a avaliar. O protagonismo não é propriamente para o júri. Estou ali apenas para emitir a minha opinião.

– Entretanto, fazem juntos um programa de rádio, na Antena 2…
Paula – Foi uma ideia do Laurent, que pensou partilhar um pouco dos seus conhecimentos musicais.
Laurent – Na verdade, esta ideia vem de trás. Eu gravei um disco com música de cinema, a que chamei Flick Music, e pensei pegar nessa ideia para a rádio. Não é original, mas decidi fazer uma coisa com uma orientação mais temática e, por isso, um pouco diferente. Foi bom e correu muito bem, mas deu muito trabalho, porque fomos nós a fazer tudo e trabalhámos em casa. Claro que tivemos as nossas discussões, mas sempre de uma forma saudável.
Paula – Nós somos bastante críticos e criticamo-nos um ao outro. Sempre que escrevo, o Laurent é a primeira pessoa a ler. O meu filho é pintor e também somos nós quem faz a crítica. E quando vamos aos concertos do Laurent, estou sempre a tirar notas para lhe dizer depois.
Laurent – Não deveria ser assim: ela não paga bilhete, por isso não devia criticar. [risos] Mas são sempre críticas construtivas e são áreas que se complementam muito bem, a música, a literatura e a pintura.