Sempre demonstrou aptidão para as artes?
Em criança, era muito tímida e observadora, vivia muito no meu mundo. Desde pequena que me lembro de desenhar constantemente, numa forma de criar outros mundos e realidades, de sonhar. Desenhar sempre foi um escape, até se tornar tão real que tive que fazer disso vida.
Como é o seu processo criativo?
Varia muito, principalmente se for um trabalho encomendado ou pessoal. Um trabalho encomendado requer uma parte de pesquisa e estudo que, às vezes, pode durar mais tempo do que a obra em si. Algo pessoal é sempre mais espontâneo. Mas normalmente, depois de pesquisar um pouco sobre algum tema ou estética que me interesse, parto para a obra final – se gostar, continuo, se não, ponho de lado. É raro repetir algo ou andar muito tempo à volta da mesma obra. Às vezes começo com algumas diversões no papel e depois a ideia vem. Não sigo uma linha em termos de processo criativo. Posso dizer que me aborreço facilmente, e por isso tudo o que faço é bastante espontâneo.
O que nasce primeiro?
A ilustração. A mensagem, ou a ideia, é no processo da ilustração que a encontro. Começo algo sem pensar muito no que quero dizer, simplesmente a saber o que quero representar, e a meio do trabalho essa mensagem vem ter comigo. Gosto muito dessa minha forma de comunicar com o desenho, é uma relação muito íntima entre nós.
Vale tudo (tela, papel, cerâmica)?
Vale mesmo tudo! Sempre que passo para um novo meio ou técnica, é uma lufada de ar fresco, é bom para limpar a mente e começar do zero. Tudo é válido como expressão, apesar de o meu meio principal ser o papel e os acrílicos. Além disso, gosto muito de pintar em tecido e bordar. Agora estou muito entusiasmada a fazer peças em cerâmica.
Que mensagem e símbolos são recorrentes nos seus trabalhos?
Há sempre um elemento orgânico ou de Natureza, um sentimento aquático também. E a nossa pequenez e insignificância é algo que me interessa ou que pretendo sempre representar. Gosto de elementos completamente casuais, ou até, à partida, “aborrecidos” ou “desinteressantes”, e da forma feminina.
Quais são as suas principais influências e fontes de inspiração?
Jean-Michel Basquiat, Paula Rego, David Hockney, Lourdes Castro… Há um sem-número de artistas que admiro e sigo e me inspiram, mas são tantos e tão diferentes que me é difícil escolher só alguns. Inspiro-me no dia a dia, no que é esquecido e pouco visto. Muito na Natureza, nas plantas, flores, paisagens. As cores inspiram-me muito também. Ler e ir a exposições ou simplesmente dar uma volta a pé são sempre ótimas fontes de inspiração.
O que gostaria de ter feito e ainda não fez?
Tanta coisa! Mas gostava muito de ilustrar a capa de um livro de um autor e editora que admire. Sou apaixonada pela leitura e por literatura, e um livro que admirasse com uma capa ilustrada por mim seria uma grande conquista e felicidade!
Revele-nos três coisas que nunca contou a ninguém, pelo menos numa entrevista.
Sei de cor o álbum Daydream, da Mariah Carey, e quando estou a pintar e a cantar ao mesmo tempo é quando estou mais entregue e concentrada. Era capaz de comer piza todos os dias. Quando quero desconectar, vou pesquisar voos e viagens.
Próximos planos. O que se segue?
Entre encomendas, estou a preparar uma nova exposição, sobre a qual, neste momento, ainda não posso revelar muito. E várias peças de cerâmica estão em breve a sair do forno, literalmente.