A combinação de várias paixões, entre as quais o rugby, a gastronomia, o convívio com os amigos e, acima de tudo, a necessidade de evasão da cidade – que não se compadece com horários espartanos –, levou uma família numerosa a adquirir uma segunda habitação, perto da Golegã, Ribatejo. A quinta, inserida num cenário bucólico, está rodeada por um terreno de dimensões consideráveis que não atenua a imponência do chalet de final do século XIX. Num imóvel com aparência austera e propósitos funcionais, o projeto de arquitetura de interiores revalorizou o imóvel, modernizando-o e tornando-o mais fluído e prático para os seus utilizadores.
O ateliê Sá, Aranha & Vasconcelos foi chamado a desenvolver e a executar a decoração global da casa que integra uma estrutura simples, mas surpreendentemente gigante. Ao todo, o edifício contempla hall, escritório, sala de jantar de estar e de jogos, cozinha, sete quartos duplos, uma suíte, uma camarata feminina, 10 casas de banho completas e a capela. Embora Carmo Aranha e Rosário Tello reconheçam que um projeto, por si só, é sempre aliciante, aqui, o que mais as motivou foram “as áreas enormes, o facto de ser uma casa rural com história, o podermos fazer tantos quartos diferentes, até porque alguns deles foram concebidos para amigos com lugar cativo, e o sabermos que o cliente aprecia arte moderna”, referem. Com apenas dois meses para concluir o trabalho, as decoradoras tiveram como ponto de partida a estrutura clássica da arquitetura e algum mobiliário já existente. Num tempo record descobriram materiais, peças e tecidos que garantissem a harmonia desejada e se aplicassem na dose certa. “O resultado foi conseguido pela conjugação entre os diferentes tons, idades, pesos, alturas, origens de objetos e soluções que pudemos encontrar em cada ambiente”, sublinham as profissionais.
A disposição da casa é simples. O hall de entrada, com vista para a sala e para o piso superior, a que se acede por uma escadaria imponente, transmite-nos de imediato a sensação de que estamos perante um imóvel repleto de áreas generosas e uma luz intensa. Entre muitos e variados objetos, destacamos o banco de jardim do século XX, em ferro e madeira, e o par de archotes em prata portuguesa transformados em candeeiros de pé. Seguindo para a sala de estar, não ficamos indiferentes ao pavimento em tijoleira e aos tectos em madeira trabalhada e pintada, ambos da época. Com diversas áreas de convívio, esta divisão garante a mistura de estilos, através de artigos como as mesas criadas a partir de esculturas indianas em madeira do séc. XIX, nos temas de “cavalos” e “cães”, com acabamento em policromia, ou as cadeiras em madeira – na zona de jogo – reproduções de originais portuguesas do séc. XVIII. “A contemporaneidade dos tons escolhidos para tecidos, tapetes, estofos, a par da arte moderna presente no projeto, criaram um contraponto ao peso da estrutura”, sublinham Carmo Aranha e Rosário Tello. O mesmo registo foi adotado na sala de jantar, onde sobressai o tecto original em madeira com estrutura de asnas e vigas ou o exemplar de aparadores, transformados a partir de bancos de carpinteiros portugueses do século XIX, em madeira de casquinha. Na cozinha, a modernidade das peças dita as coordenadas de um ambiente sóbrio, enquanto nos quartos o conforto é nota dominante. Ao entrarmos na suíte, o olhar fixa-se no lustre em murano e liga metálica, com abajures em linho preto, e nas peças em ouro fino e metal cromado. Os cortinados em gaze branca marfim, com pendentes pretos, compõem o cenário. Ao lado, na camarata, a diferença impõe-se pela cor, pelos padrões florais e pelas madeiras décapé. A área esconsa do quarto, potenciada pelas escadas de acesso ao sótão, é ocupada por um toucador.
Uma casa de férias ampla e funcional, que em muito surpreendeu os clientes. “Acharam brutal. Quando olhamos para a casa pronta, não temos dúvidas de que gostaríamos dela para nós. Sempre no espírito do projeto: com muita alegria”, rematam os rostos do ateliê Sá, Aranha & Vasconcelos.
Decoração: Bom ponto de fuga
Perto da Golegã, ergue-se um chalet pleno de referências, onde a arquitetura clássica se contrapõe com elementos de arte moderna. Numa partitura de contrastes, casam-se materiais, texturas e cores, atribuindo a esta casa familiar uma nova vida.