Com 22 anos, o acaso colocou-lhe um português no caminho e a sua vida mudou completamente. As malas, que já estavam em Berlim, para onde pensava mudar-se, voltaram para Barcelona e nada mais separou Isis Alarcón de Miguel Marques Pinto, então a viver em Espanha. Foi amor à primeira vista. O empresário e artista plástico usou de todo o seu charme para conquistar a catalã num encontro de amigos em comum, em Ibiza. E ainda hoje os olhos de Isis brilham quando lembra a história e as muitas peripécias. Juntos há 14 anos, têm a família com que sempre sonharam. Os quatro filhos – Duarte, de oito anos, Inês, de cinco, Valentina, de quatro, e Lola, de nove meses – são a maior riqueza do casal, que vive no Porto, embora tenha sangue nómada. Depois de longas temporadas em Londres e Miami, é na Invicta que se sentem em casa.
Com a aproximação do Natal, a CARAS visitou-os numa das casas que têm no Douro, a Quinta do Olival – uma das propriedades da empresa de Miguel Marques Pinto, a Pinta House, que funciona como airbnb de luxo –, e ficou a conhecer como as tradições portuguesa e catalã se cruzam nesta época do ano.
– Conheceram-se em Ibiza, viveram em Barcelona, casaram-se em Maiorca, passaram por Londres e Miami antes de se estabeleceram no Porto… É por aqui que vão ficar?
Isis Alarcón – Por causa do trabalho do Miguel, viajamos muito, e Miami foi durante algum tempo a nossa casa. Mas com quatro filhos começou a ficar complicado, porque não tínhamos apoio familiar, estávamos muito sozinhos. No Porto, a minha mãe pode visitar-nos com mais frequência e estamos no centro do mundo para ir para qualquer lado. É uma cidade amistosa, fácil e segura. Em termos profissionais, é aqui que faço tudo. Mesmo quando vivia em Londres ou Miami, as fábricas e o escritório da It Shoes eram cá. Mas nós somos nómadas, cidadãos do mundo. Os nossos filhos mais velhos falam inglês, castelhano e português, cada um com o seu sotaque, e é muito engraçado.
– Criou a sua marca de calçado “online” quando estava grávida do seu primeiro filho, e hoje é um sucesso. Como nasceu este projeto?
– Trabalhei em comunicação audiovisual, produção de televisão, cinema e publicidade. Já com o Miguel, em Barcelona, fui ajudante de estilista e criei um blogue de moda. Com a mudança para o Porto, as viagens começaram a ser constantes, e numa delas, com uma amiga, visitei um armazém onde me deparei com centenas de sapatos abandonados, desde Jimmy Choo a Valentino. Estavam ali cheios de pó. Eram stocks antigos de modelos que não se venderam. Eu perguntei se os podia fotografar para vender no meu blogue e deixaram-me. Vendi tudo. Então comecei a viajar para Milão com frequência à procura de mais, mas quando decidimos ter um filho começou a ser complicado. Nessa altura, o Miguel aconselhou-me a visitar as fábricas de sapatos que existem em Portugal, e depois de fazer um levantamento comecei a comprar stocks antigos de sapatos portugueses. Foi então que me apelidaram de “la traficante de zapatos”. Certo dia, numa dessas fábricas perguntaram-me porque não desenhava uma coleção. A ideia foi tentadora, mas não tinha formação para tal. Então, comecei a passar mais tempo nas fábricas, para aprender, e, já grávida, fui para Londres tirar o curso de Design de Calçado. Assim nasceu a It Shoes – Isis la Traficante Shoes, com apenas três modelos, e tive excelentes reações.
– E o que distingue a sua marca?
– São sapatos intemporais, com um desenho eterno, que não passa de moda, de boa qualidade, em pele, made in Portugal e a preços razoáveis. Só vendemos online porque não temos grande margem e não queremos aumentar os preços. No início foi difícil, ninguém acreditou que a It Shoes fosse funcionar, mas à custa de muito trabalho conquistámos o nosso lugar. Espanha é onde vendemos mais, mas também temos bons clientes em Portugal, Europa em geral, América Latina e EUA. As embalagens de envio são lindas e cada encomenda é enviada com muito carinho. Além das coleções semestrais, de verão e inverno, temos sempre os clássicos disponíveis e estamos a lançar a coleção para crianças, iguais para mãe e filha. Aliás, a Inês e a Valentina estão a estrear hoje as texanas que são o nosso best-seller.
– Receberam-nos na vossa quinta no Douro, onde já se sente o cheirinho a Natal. Como vivem esta época?
– Como temos uma família grande, passamos sempre o Natal entre a casa dos meus sogros e a da minha cunhada. A minha mãe vem de Barcelona, traz torrões de Alicante e passa connosco. Lá comíamos frango na Consoada, mas já me habituei ao bacalhau, ao peru e à ‘roupa velha’. Os miúdos adoram esta época. Tal como eu fazia quando era miúda, em nossa casa também construímos um presépio gigante, com as figurinhas todas, e é tempo de qualidade que passamos juntos. E a partir de dia 1 de dezembro temos o caga-tió na nossa casa: um tronco de madeira com uma barretina, chapéu típico catalão, onde as crianças depositam as cascas da fruta que comem diariamente. No dia seguinte as cascas desaparecem, e assim sucessivamente. A 24 de dezembro faz-se o ritual: tapa-se o caga-tió com um pano, bate-se com um pau no tronco, canta-se e ele oferece pequenos presentes e guloseimas.
– Como gerem as expectativas dos vossos filhos em relação aos presentes?
– Desde que os miúdos nasceram que estabelecemos que na noite de Natal só recebem presentes dos padrinhos e dos avós. Nós em casa damos o que cada um estiver a precisar, coisas práticas. E no Dia de Reis, que também festejamos, oferecemos livros.
– Com dias tão cheios, sobra tempo para a Isis e o Miguel namorarem?
– É difícil, mas tentamos. Por acaso estamos de saída para Miami, os dois sozinhos, e vai ser ótimo. Sempre que podemos, jantamos fora à sexta-feira. Mas já nos habituámos à confusão, gostamos desta intensidade. Os miúdos ainda precisam muito de nós e não consigo ausentar-me regularmente. O importante é ter tempo de qualidade em família. Por exemplo, vamos passar o ano todos juntos em Andorra. É a primeira vez que eles vão à neve e estou muito feliz. Os miúdos vão adorar!
– Querem ter mais filhos?
– Tenho a família com que sempre sonhei, acho que agora quero acompanhar o crescimento dos quatro e aproveitar todos os bocadinhos. Cheguei ao limite físico e psicológico, há oito anos que estou a mudar fraldas… Felizmente, temos um sistema organizado em que tudo funciona. Temos muitas rotinas e normas, mas é sempre uma animação. É verdade que uma família numerosa dá trabalho, mas também dá muitas alegrias.