João Lima
Foi no dia em que fez 40 anos que Daniela Antão, hoje com 46, descobriu que tinha cancro da mama. Com o resultado da biópsia na mão, a advogada teve medo e pensou em todos os cenários. Contudo, recusou-se a entregar os pontos ao pessimismo e decidiu que iria tratar o cancro por “tu”. Informou-se, mudou por completo a sua alimentação e estilo de vida, aliou a oncologia à medicina tradicional chinesa, questionou os médicos e teve sempre uma palavra a dizer sobre o seu corpo e as decisões a tomar.
Como não teve de se sujeitar a quimioterapia e não havia sinais físicos de que era uma doente oncológica, Daniela viveu todo o processo na sua intimidade. Nem os filhos, Pilar, de 11 anos, Henrique, de 14, e Afonso, de 18, souberam, na altura, a batalha que a mãe travava. Por isso, passados seis anos, decidir expor o que lhe aconteceu no livro Crónica de Uma Ressurreição não foi uma decisão tomada de ânimo leve. Contudo, saber que poderia esclarecer e ajudar muitas pessoas que estão a passar pelo mesmo foi determinante para pôr no papel a sua batalha contra o cancro, como contou a candidata do partido Aliança às últimas eleições europeias durante uma conversa sincera e sem tabus.
– Foi difícil escrever sobre a sua luta contra o cancro? Ou acabou por ser um processo catártico?
Daniela Antão – Comecei a escrever para mim, porque era terapêutico, fazia-me bem. O que me levou a fazer isso foi poder ajudar as pessoas. No livro, abordo temas objetivos, outros mais emocionais, e achei que ao escrevê-lo estava a cumprir um dever cívico. Só isso é que me fez tornar público um assunto privado. Como não tive de fazer quimioterapia nem tive sinais exteriores de que estivesse com cancro, soube-me bem guardar esta condição só para mim. O feedback que tenho tido de quem lê o livro prova que fiz bem em trazer para a esfera pública a minha experiência. Quis alertar e inspirar as pessoas. Esta é talvez a causa da minha vida.
