Judith Owen tem um raro caráter. Distingue-se dos que se declaram apreciadores do lado bom da vida e assume-se antes como apaixonada por tudo o que existe, o bom e o mau, o trágico e o sagrado, não afastando de si a negritude dos dias nem tão-pouco atalhando caminhos rumo ao destino. De visita a Lisboa para dois concertos, a cantora rendeu-se aos recantos da cidade, alimentando o seu interesse e curiosidade em torno da história e da arte. Ela é, parafraseando Ortega y Gasset, “a mulher e a sua circunstância”: educada numa família de músicos do País de Gales, ousa cruzar o clássico e o jazz.
– Esta é a sua primeira visita a Portugal. Quais são as primeiras impressões?
Judith Owen – Sinto-me envergonhada por ter demorado tanto tempo a vir cá. É tão perto e tão bonito! Os azulejos, a arquitetura, as ruelas. O meu percussionista, Pedro Segundo, que é português, disse que iria apaixonar-me por Lisboa e estava certo.
– Que dicas lhe deu?
– Prometeu mostrar-me a cidade. Disse-me para comer muito peixe, e é tudo o que faço, sobretudo marisco. Adoro história, arte e arquitetura. Sei que basta caminhar pela cidade e que será incrível. Quero visitar Sintra e o Porto.
– É muito diferente da realidade em que cresceu, no Reino Unido?
– Lá escondemo-nos do tempo e cá as pessoas tiram partido do exterior.
– Como descobriu a música na sua vida?
– Nasci numa família musical, no País de Gales, e lá cantamos. Cresci nos bastidores da Royal Opera House, em Covent Garden. O meu pai foi cantor de ópera e atuou lá e um pouco por todo o mundo. Os meus pais adoravam jazz, o que é muito invulgar: ser clássico e adorar jazz. Isso influenciou-me. A minha música é clássica, jazz e folk.
– Compõe desde que idade?
– Canto e toco piano desde os quatro anos. A primeira canção que compus foi para a minha mãe. Morreu quando ainda era criança. Nunca fui capaz de a gravar por ser demasiado pessoal. Sentia-me destroçada e tornou-se crucial começar a compor. Foi uma forma de lidar com a perda. A minha família gostava que tivesse sido uma grande pianista, mas tenho dislexia musical. Consigo ouvir tudo, não sei ler [música], mas sou ótima a escrever. Soube desde sempre que não seria uma cantora clássica, o meu futuro seria como compositora.
Judith Owen em Lisboa: “Percebi cedo que só havia dois caminhos: o das celebridades e o dos verdadeiros artistas”
A cantora galesa esteve pela primeira vez em Portugal, onde deu dois concertos, em Lisboa e em Cascais.
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