Aos 65 anos, José Jorge Letria nunca se sentou para ler tudo o que já escreveu. A urgência de passar para o papel o que tem para dizer e contar fá-lo caminhar incessantemente para o que ainda não foi feito e para a palavra que falta escrever. Esta noção da escassez de tempo, que não se traduz, contudo, na falta de vida e de experiências, pese embora nunca tenha gozado um período integral de férias, como nos confidenciou, tornam-no num escritor único. E nós fomos testemunhas desta excecionalidade, durante uma manhã em que partilhou connosco palavras e emoções a pretexto do seu novo livro, Grandes Histórias de Amor – O Livro dos Amantes.
– O amor continua a ser a maior fonte de inspiração?
José Jorge Letria – Sempre! Sabe que o amor que nos motiva, que nos impulsiona, que nos transforma é sempre uma interrupção das rotinas que nos vulgarizam. Quando o impulso é o amor, olhamos o mundo com outra ansiedade e expetativa. Quando o amor se instala, mesmo numa situação trágica e desfavorável, faz com que queiramos viver mais e que gostemos mais do mundo e da diferença.
– No momento que vivemos hoje, onde o ódio e o preconceito se proliferam quase com validação, este livro pode ser um ponto de luz?
– Colocou-me a questão central. Quando somos confrontados com o imperativo do ódio, por via de forças políticas que conquistam o poder e proclamam tudo o que é inimigo da liberdade, da alegria, do consenso e do júbilo estamos exatamente a declarar a urgência deste amor. Porque quando o ódio nos cerca, a única forma de o combater é através do amor. Do amor que não levanta o punho para agredir, do amor que não põe o dedo no gatilho, do amor que, no fundo, usa tudo aquilo que é emotivo, sensível e fugaz e, ao mesmo tempo, sendo fugaz, se torna eterno. Não tenho dúvidas de que este é um livro oportuno e de emergência, contra o ódio e contra o medo.
– E a sua escrita provém do amor?
– A escrita é, seguramente, o grande amor da minha vida. Confesso que me atemoriza a hipótese macabra de um dia não poder escrever. Os escritores como eu, com esta pluralidade de escrita, escrevem sempre contra a morte. A morte é imprevisível e às vezes insondável. Quando se escreve, deixamos o rasto da obra e nela a nossa essência. Por isso é que acho que o autor é sempre quem mais combate, não necessariamente o medo da morte – não tenho medo da morte – mas a sua inevitabilidade.
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