Há casas que nos fazem sonhar e as de Vasco Vieira estão frequentemente nesse grupo. O arquiteto, de 46 anos, nascido em Joanesburgo, na África do Sul, é um dos mais bem sucedidos da área e em Portugal tem trabalhado sobretudo no Algarve, um mercado, mais internacional. Casado e pai de uma adolescente, foi num dos seus projetos mais recentes, precisamente no Algarve, que posou e conversou com a CARAS.
– Fale-nos um pouco do seu percurso.
Vasco Vieira – Os meus pais são portugueses, foi cá que se casaram, e mais tarde decidiram ir viver para a África do Sul. Foi lá que nasci e depois, aos 25 anos, terminados os estudos, regressámos a Portugal. Seis meses depois encontrei um ateliê em Coimbra e comecei a trabalhar, mas sempre com o Algarve na minha cabeça. Já cá tinha estado durante um ano e sabia que era aqui que haveria de trabalhar.
– E de onde vem este gosto pela arquitetura?
– Sempre gostei de desenho e foi por aí que tudo começou. Aos 11 anos já desenhava moradias e fiz o meu primeiro projeto com essa idade. Os meus pais não têm nada a ver com esta área mas sempre gostaram muito de artes, o que poderá ser uma explicação para me ter interessado tanto pela área. Sempre soube o que queria ser e consegui.
– Viemos fotografá-lo a uma das casas que projetou. Onde é que vai buscar inspiração?
– Em primeiro lugar, ao local. As vistas, a exposição solar, a paisagem, isso é a minha inspiração. Em segundo lugar, aos proprietários em si. Faço por conhecer bem os proprietários, saber os seus gostos, perceber de que maneira utilizam e vivem a casa e a partir daí desenvolvo o projeto.
– Diz que sempre quis trabalhar no Algarve. Há alguma razão específica?
– Não sou uma pessoa de cidade. O Algarve lembra-me a África do Sul, por ter tantos espaços amplos. Em Portugal, é o melhor sítio para se viver! É uma sorte poder trabalhar num sítio onde gosto de viver.
– Depois da criação do seu ateliê, Arqui+, em 2003, começou a ser reconhecido lá fora…
– É verdade, já recebemos muitos prémios, nem sei quantos! Um dos primeiros que ganhámos, ou ganhei, foi entregue pela revista Homes Overseas, com uma das nossas moradias e também alguns apartamentos a serem selecionados como os melhores do nosso país. Depois, em 2004, a mesma revista fez uma lista daqueles que considerava os melhores dez arquitetos do mundo e incluíram-me.
– Soube-lhe bem este reconhecimento pessoal?
– Foi espetacular [risos]. Ainda por cima ganhei o prémio quando montei a Arqui+, portanto, foi no momento ideal.
– Na sua opinião, porque acha que é somente reconhecido no estrangeiro?
– Acho que tem a ver com o facto de o mercado aqui no Algarve ser muito direcionado para os estrangeiros. Neste momento já sentimos algum reconhecimento a nível nacional. Temos sido convidados para fazer projetos em Lisboa, Ericeira, Leiria, entre outros, por um cliente português que conhece os bons arquitetos que existem em Portugal, portanto, é um bom sinal.
– Que tipo de pessoas o procuram?
– Já fiz casas para jogadores de futebol, estrelas de cinema inglesas e, mais recentemente, em Portugal, fiz uma moradia para a Cristina Ferreira. Procurou muitos ateliês, não conhecia o nosso, mas gostou e escolheu-nos de entre muitos outros.
– Há muita competitividade neste mercado?
– O Algarve continua a ter um boom na construção. Há concorrência, mas desde que faça o meu trabalho, não me preocupa.
– É uma profissão exigente… Como é o dia-a-dia de um arquiteto?
– Trabalho das oito da manhã até às dez, onze da noite. Trabalho muito aos fins de semana, é a única altura em que consigo projetar. Durante a semana é só reuniões e controlar obras. Não estou sozinho, tenho comigo no ateliê 15 pessoas, que trabalham também no design de interiores, e temos 35 a 40 obras em curso, fora os 50 projetos.
– Há alguma imagem de marca nas obras que cria?
– A ligação exterior/interior está presente em todas as minhas construções. Não há barreiras, há uma fluidez e isso para mim e para o clima que temos é fundamental.
– Tem alturas em que se sente menos inspirado?
– Eu projeto a desenhar, portanto, não tenho tendência para bloquear a minha criatividade. As maiores dificuldades têm a ver com a parte burocrática. É a parte mais complicada em todo o processo. É uma profissão que me dá muito gozo. A única parte chata são os licenciamentos. Às vezes temos de ceder e não fazemos tudo como queremos, por questões legais, por isso temos de ser criativos. É mais fácil trabalhar lá fora, porque a parte burocrática não tem de ser trabalhada por nós.
– Já percebemos que trabalha muito… Há alguma vida por detrás do Vasco, o arquiteto?
– [risos] Sim, há! Tenho uma mulher fantástica, a Kim, e uma filha maravilhosa, com 16 anos, a Natasha. Fazemos muitas coisas em família. Temos uma vida em família e a minha vida social é passada com elas.
– A Kim trabalha consigo?
– Trata da parte administrativa do ateliê. Não tem formação na área da arquitetura e isso é ótimo. Quando tenho um projeto, mostro-lho e ela consegue vê-lo com outros olhos.
– Consegue equilibrar o trabalho com a vida familiar?
– Por não ter tanto tempo como desejaria é que faço todos os projetos em casa, de maneira a estar perto delas.
– Algum desejo para o novo ano que se aproxima?
– Para já, quero ver terminado o nosso novo ateliê, que está em construção e terá um showroom, uma galeria. Queremos criar quase um espaço cultural.
Vasco Vieira: Um arquiteto que sabe como fazer sonhar
Filho de portugueses que emigraram para a África do Sul, foi lá que estudou até aos 25 anos. Agora, é em Portugal que aposta, tendo já integrado listas que selecionam os melhores arquitetos do mundo.
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