De chinelos e quase sem maquilhagem. Foi assim que Clara de Sousa nos recebeu em sua casa. “Esta sou muito mais eu, mais verdadeira com aquilo que sou e me reconheço, sou mais a Clara, não a profissional do jornalismo. Sei que muitas vezes é necessário usar maquilhagem, mas gosto mais de me ver sem ela,” explicou. Também nos pediu para não usarmos tratamento de Photoshop nas fotografias que fez para nós. “Sinto-me bem com a idade que tenho, faço 47 anos no final do mês, e as rugas não me incomodam”, justificou. Mas o pretexto para esta entrevista foi o lançamento do seu segundo livro de receitas. Começámos por aí.
– Há um grande contraste na sua vida: o jornalismo e a cozinha…
– É verdade, há o stresse diário do jornalismo, da atualidade, tenho sempre a cabeça muito cheia com aquilo, e depois há este relaxamento da cozinha. Tenho o gosto pela cozinha desde criança e tento transmitir isso à minha filha. Eu, com a idade dela, fazia-o por obrigação, os meus pais chegavam tarde a casa e eu fazia o jantar para eles. A Maria não tem essa necessidade, mas faz por prazer e incentivo-a.
– É o seu segundo livro. Ainda considera a cozinha relaxante? Não é encarada já como um trabalho, uma obrigação?
– Ainda é relaxante. Obrigo-me muitas vezes a fazer isso. Mesmo que esteja na cozinha à uma da manhã, estou a pensar que vai ser uma coisa boa e que vou partilhar isso com as pessoas, por isso acaba por me relaxar. O livro é que foi particularmente stressante, tive pouco tempo para o fazer e tive de cortar mais de 100 receitas. As minhas férias foram basicamente todas consumidas nisso. Fiz tudo aquilo em 11 dias, foi muito intenso. E depois, como sou perfeccionista e super crítica… Foi tudo feito cá em casa, mudei a casa toda para isso, trouxe mais um frigorífico, muitos pratos, muita loiça, mesas… foi muito cansativo, mas quando abro o livro e vejo o resultado, fico muito feliz, porque acho que transmite a alegria que eu quero transmitir na cozinha.
– Quem olha para o livro pode achar que a Clara só escreve umas receitas e tem alguém para lhe fazer tudo o resto…
– Sim, sim. Desta vez só não lavei a loiça, tive a ajuda preciosa da Gina. Por dia, cheguei a fazer 17 e 18 pratos diferentes para fotografarmos, por exemplo. Compensou o trabalho, acho que o livro está muito bonito.
– Ir para a cozinha é um bom programa familiar ou para se fazer com o namorado?
– Sim, mesmo, sobretudo com a minha filha. O meu filho, Manuel, não é virado para estas coisas, é mais para comer e só o que ele gosta. Ela tem muita iniciativa e gosta. Às vezes diz-me: “Hoje quem vai fazer o jantar sou eu!” E já me surpreendeu muitas vezes.
– Pelo que percebi, aqui em casa não se manda vir comida de fora! A Clara faz tudo, até os biscoitos dos cães!
– É verdade! Porque é que hei de mandar vir ou comprar feito se posso ser eu a fazer e melhor? Dificilmente irei comprar hambúrgueres, por exemplo, a menos que esteja naqueles dias em que já não estou com forças para nada. No outro dia fui a uma casa de hambúrgueres, onde não entrava há dois anos, mas não foi para mim, foi para o meu namorado, o Eduardo [Militão]. Gosto mesmo de cozinhar, não preciso de nenhuma ocasião especial para o fazer. Só o facto de estar a testar uma receita nova, desenvolvê-la ou melhorá-la, já é um desafio que me entusiasma e me dá energia, mesmo que seja à uma da manhã. O Eduardo costuma dizer que estou sempre com as pilhas todas quando estou na cozinha.
– E ele tem espaço na cozinha? Deixa-o entrar?
– Toda a gente entra na minha cozinha, é um espaço aberto.
– Entre livros e jornalismo, a tarefa de ser mãe de dois adolescentes não se torna complicada?
– Não. Os meus filhos não me dão nem deram muito trabalho nem grandes preocupações, são miúdos extraordinários, responsáveis, companheiros, camaradas. O que é mais duro para mim é chegar todos os dias a casa às 22h30, quando quase todas as pessoas já estão de pantufas e a prepararem-se para ir para a cama, estou eu ainda a preparar o jantar. Mas mesmo assim consigo estar com os meus filhos, passar tempo de qualidade com eles, temos uma ótima relação. Estamos a entrar na fase de maior cumplicidade com esta aproximação da vida adulta. Peço conselhos à Maria sobre o que devo vestir, às vezes, ela também me diz para ir às compras com ela para a ajudar, como amigas. Mas atenção, só nessas coisas, porque continuo a ser mãe e não quero ser só a amiga compincha, não me demito de a chamar à atenção quando tem de ser, mesmo que ela não goste. Tanto um como outro.
– Pediu-nos para não usarmos Photoshop nas suas fotografias. É um pedido raro, hoje em dia, quando a maioria das mulheres gosta de esconder rugas e imperfeições…
– As rugas não me incomodam. Lembro-me que quando olhava para a minha mãe – e ela era tão linda – uma das coisas a que achava graça era quando ela se ria e a ruga do rosto quase chegava à maçã do rosto. Eu achava aquilo tão bonito, porque era sinal da alegria dela, de ela se rir. Peço para não me usarem Photoshop porque depois olho para as fotos e não me reconheço. E a última coisa que quero, seja numa produção fotográfica qualquer ou na televisão, é olhar e não me reconhecer. Nos meus livros não usei qualquer maquilhagem e as fotos ficaram maravilhosas, eu olho para aquelas fotos e reconheço-me,
sou eu, mais a Clara, não a profissional do jornalismo.
– Sente-se bem nos seus 47 anos?
– Sinto-me muito bem com a idade que tenho, com muita energia. Às vezes sinto que até estou com mais energia do que tinha há dez ou 15 anos. Se calhar porque os meus filhos hoje em dia dão menos trabalho! Mas obviamente que sinto os efeitos da idade, cada vez estou mais ‘pitosga’. Mas não me sinto velha na idade, acho que tenho uma energia que não me faz sentir o peso da idade. O que me faz um bocadinho confusão é ter colegas que vão chegando e têm a idade do meu filho, vejo-os como meus colegas, mas na verdade eu podia ser mãe deles! E aí é que começo a pensar que o tempo passa. Passa, mas não me pesa ou não me tem pesado até agora.
– Aparentemente, tem tudo para ser feliz e estar bem: acabou de lançar o segundo livro, tem o Eduardo, uma casa fantástica, dois filhos maravilhosos, cães, gatos, amigos, tem o seu trabalho…
– Tenho mesmo e sou feliz.
Tártaro de abacate e salmão
• 1 abacate esmagado
• 1 pepino finamente picado
• 1 chalota ou 1 cebola miúda, finamente picada
• cebolinho q.b.
• 1 colher sopa sumo de limão
• sal e pimenta preta q.b.
• 200g salmão fresco ou curado (Gravlax) ou fumado, finamente picado
• ½ colher sopa endro ou rama e funcho, picado
Corte o abacate ao meio no sentido do comprimento, rode as metades em sentido contrário para as separar.
Retire o caroço e, com uma colher, retire a polpa para um prato.
Esmague bem, com a ajuda de um garfo.
Abra o pepino ao meio no sentido do comprimento.
Com uma colher, raspe o veio central retirando as sementes.
Descasque, corte em tiras e pique finamente.
Numa taça, misture o abacate, o pepino, a chalota bem picadinha, o cebolinho, o sumo de limão, o sal e a pimenta.
Noutra taça, misture bem o salmão, bem picadinho, com o endro.
Tempere com sal e pimenta.
Enforme, usando 2 aros com 8 a 10cm de diâmetro.
Coloque um aro em cada prato.
Use metade do preparado de abacate e distribua pelos dois aros.
Calque com as costas de uma colher.
Coloque o preparado de salmão sobre as bases de abacate.
Calque.
Finalize com o restante preparado de abacate. Calque e alise.
Cubra com película, deixando-a colada ao abacate e retirando quaisquer bolhas de ar.
Leve ao frigorífico para refrescar o mais possível.
Pode fazer com 2 a 3 horas de antecedência.
Na hora de servir, retire a película e os aros.
Alise, se necessário.
Decore com mais um pouco de endro, folhas de agrião ou de rúcula.
Sirva bem fresco.