D. Juan Carlos I
ficará na História como um grande monarca que assegurou de forma pacífica a
transição de Espanha da ditadura de Franco para uma democracia plena de
padrão ocidental.
Teve coragem em momentos decisivos, como, por exemplo, quando, contra tudo e
contra todos, escolheu Adolfo Suárez como primeiro-ministro, ou quando,
em 23 de fevereiro de 1981, conseguiu abortar o golpe militar.
Teve visão, porque soube antecipar as grandes linhas de evolução do seu país,
não apenas no plano interno e apesar das dificuldades acrescidas resultantes
das reivindicações autonómicas, que atingiram grande violência com a ETA, mas
também participando ativamente numa política externa que, passando pela adesão
à Europa, se alargou, por outro lado, a uma presença e irradiação da Espanha no
mundo de língua hispânica.
Teve sabedoria, ao longo de 39 anos de reinado, na maneira como lidou com as
pessoas e com os problemas, e hoje, ao abdicar no momento adequado, essa
sabedoria revelou-se mais uma vez.
Portugal continua a contar com D. Juan Carlos I como um amigo de sempre. Um
espanhol que fala português. Um homem que não esquece a sua juventude no Estoril,
onde viviam, exilados, os seus pais.
O príncipe das Astúrias prosseguirá o percurso traçado por seu pai na chefia do
Estado espanhol. Está preparado, atingiu o auge da maturidade dos seus 46 anos
de idade e tem demonstrado saber ser paciente e ponderado, sem deixar de
progressivamente ir marcando a sua presença e a sua capacidade de intervenção.
Também o futuro Felipe VI conhece Portugal e gosta de Portugal, onde tem
muitos amigos da sua geração e da geração dos seus pais.
A este propósito cito, do discurso que o príncipe das Astúrias proferiu,
quando, a 6 de dezembro de 2007, me entregou o VII Premio de Periodismo Rafael
Calvo Serer, a parte que dedicou ao nosso país: “Portugal bem sabe que pode
contar comigo e com a minha família como sinceros exemplos da amizade
hispânico-portuguesa, desde o especial afeto, respeito e admiração que a
princesa e eu temos em relação ao querido país vizinho e ao seu povo, e ainda
desde a gratidão permanente pela conhecida maneira como foram tratados os meus
queridos avós, Don Juan e Dona Maria (Condes de Barcelona) e toda a família.
A história das antigas nações europeias, como Portugal e Espanha, não só
forjou grandes povos, dotados de arreigada personalidade e múltiplas facetas,
como transcende as suas próprias fronteiras, estimulada pelos nossos idiomas de
alcance universal e contribui para definir a projeção da Europa no mundo.
Hoje, como países modernos e desenvolvidos, colaboramos ativamente na cena
internacional através da participação comum na Aliança Atlântica e na União
Europeia e da coincidente dimensão ibero-americana e mediterrânica das nossas
políticas externas.
Portugueses e espanhóis podem também regozijar-se pelo extraordinário
desenvolvimento dos nossos profundos veículos de amizade e cooperação ao longo
das 3 últimas décadas.
Com efeito, durante este período, a estima que cada país nutre pelo outro
foi reforçada por um diálogo leal a todos os níveis, que alimenta a confiança e
a compreensão recíprocas, refletidas em múltiplos foros, entre os quais se
destacam as cimeiras anuais luso-espanholas e a relação entre as províncias
fronteiriças de ambos os países.
Juntos temos conseguido levar a cabo projetos concretos e mutuamente
benéficos e, ao mesmo tempo, pudemos estender a nossa sintonia e cumplicidade a
novas áreas. E isso não só no âmbito público, mas também no privado, desde o
setor empresarial até as numerosas iniciativas suscitadas pelas nossas
sociedades civis.
Em síntese, nestes últimos 30 anos, intensificaram-se, como nunca acontecera, o
entendimento e a amizade entre portugueses e espanhóis.”
FRANCISCO PINTO BALSEMÃO
2 de junho de 2014
Francisco Pinto Balsemão: “Portugal continua a contar com o rei Juan Carlos como um amigo de sempre”
O presidente do Grupo Impresa descreve o rei Juan Carlos, seu amigo, como um grande monarca que ficará na história.
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