Porque queria dedicar-se
mais ativamente aos seus projetos musicais, mas, principalmente, porque
precisava de melhorar a qualidade de vida da mulher, Sandra, que desde
os 18 anos estava limitada por uma doença intestinal crónica, há cinco anos António
Leal decidiu mudar-se do Estoril para Santa Comba Dão. Desde então, muita
coisa mudou na vida do casal. A agitação natural de uma cidade deu lugar à paz
do campo e hoje o conceito que António e Sandra têm do tempo é diferente. Ali,
o músico e a tradutora reaprenderam a viver e, com surpresa, revelaram-se uma
equipa de sucesso também a nível de trabalho. Prova disso é ContraCanto,
musical que estrearam com êxito este ano e com o qual vão partir em digressão
em 2014.
– O que motivou uma alteração tão radical de vida?
António Leal – Tinha muitos projetos que queria concretizar e, como já
trabalhava com o Filipe La Féria há 13 anos, achei que estava na altura
de materializar as minhas ideias. Esta vontade coincidiu com o agravar do
estado de saúde da Sandra, por isso resolvemos sair dos grandes centros urbanos
para ela recuperar alguma qualidade de vida.
– Sandra, qual era o seu problema de saúde?
Sandra Leal – Desde os 18 anos que vivia com uma doença intestinal
crónica. O meu estado foi-se agravando ao longo dos anos e em 2001 fiz a
primeira intervenção cirúrgica. A situação complicou-se e os últimos dez anos
foram vividos em sofrimento, sem dormir e com a infeção a afetar-me a coluna e
a mobilidade. Até que em 2012 tive de ser intervencionada pela quarta vez.
Apesar de ter sido a operação mais traumática e mutilante, fiquei curada.
Durante todo este moroso processo, o António teve um papel importantíssimo,
esteve sempre ao meu lado.
António – No ano passado a situação foi muito complicada. A Sandra
estava a morrer e foi o tudo por tudo! Estou certo de que a nossa mudança foi
muito importante para a recuperação dela.
– Foi uma grande prova de amor do António…
Sandra – Sem dúvida. O processo não foi fácil, assustava qualquer um,
mas o António não vacilou um segundo, esteve sempre presente.
– Aqui vivem mais um para o outro. Esta mudança refletiu-se na vossa vida
como casal?
– Passei a ter mais tempo de qualidade com o António. Quando ele trabalhava com
o Filipe [La Féria] era muito complicado estarmos juntos. Além disso, agora
posso colaborar com ele, há mais partilha a nível profissional. Ou seja, a
nossa linguagem aproximou-se, e depois de algumas experiências, descobrimos que
fazemos uma boa equipa.
– Profissionalmente, imagino que a vida do António seja agora bastante
diferente da que tinha em Lisboa?
António – Lá, vivia a um ritmo frenético, mas no início senti bastante
nostalgia, porque me faltava a estrutura para fazer os espetáculos a que me
tinha habituado nos últimos 13 anos. Mas graças à Fundação Lapa do Lobo,
consegui apoio para trabalhar os meus grandes espetáculos aqui. Claro que,
financeiramente, ganhava mais em Lisboa, mas sou muito mais feliz aqui.
– E qual é o seu maior projeto neste momento?
– A par do trabalho que tenho vindo a desenvolver no Conservatório de
Música e Arte do Dão, onde tenho mais de 50 alunos, e da companhia de teatro
que montei – não existia nenhuma na zona – consegui concretizar o ContraCanto,
que escrevi, encenei e dirigi. Trata-se de uma peça de teatro musical que conta
a história do país entre 1967 e os dias de hoje. A música é do José Afonso
e em palco estão o Hugo Rendas, a Paula Sá, o Carlos Martins,
a Joana Leal, a Sissi Martins, o Rúben Madureira e o Artur
Marques. Este projeto é muito importante para mim, porque me ajuda a manter
a independência estrutural e artística.
António e Sandra Leal mudam de vida e trocam Estoril por Santa Comba Dão
Problemas de saúde de Sandra levaram o casal a deixar Lisboa e a mudar radicalmente de vida. Cinco anos depois, estão os dois felizes com essa decisão.
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