Garante que a timidez é uma das características da sua personalidade, mas admite gostar do jogo da sedução, tendo, a seu favor, uma voz
"velada e encorpada" que, a par de uma enorme dedicação ao fado, lhe tem valido uma legião de fãs. Por ocasião do lançamento do quarto álbum da fadista, Leva-me aos Fados, editado pela Universal, a CARAS marcou encontro com
Ana Moura e ficou a conhecer um pouco melhor a Ana, não a que canta fados, mas a que passou a infância em Coruche, a adolescência na Linha de Cascais, e se prepara para uma nova aventura: a de deixar a casa dos pais para viver no seu próprio espaço.
– Há uns anos queixava-se que as novas gerações não ouviam muito fado, mas parece que agora estão a começar a gostar e a identificar-se com o fado…
Ana Moura – Nós trazemos influências de outros géneros musicais, das nossas experiências de vida, e isso acaba por se reflectir nas escolhas de letras, que são mais actuais. Nesse sentido, é normal a camada mais jovem identificar-se mais com o fado.
– Isso leva-a a acreditar que foi, de facto, a melhor aposta que poderia ter feito, uma vez que o início da sua carreira musical não estava ligada ao fado?
– Sem dúvida, acho que foi a melhor aposta.
– Tem receio que lhe falhe a voz, que lhe aconteça algo inesperado em palco, ou sente-se preparada para lidar com este tipo de imprevistos?
– A determinada altura da minha vida comecei a ter imensos concertos, cantava quase todos os dias, com viagens pelo meio, num ritmo acelerado a que não estava habituada, e ressenti-me. Agora, a minha vida mudou totalmente, tenho imenso cuidado com a voz, porque isto são dois músculos e nós acabamos por ser atletas de alta competição: temos que ter o treino e os cuidados necessários para que as cordas não sintam esse desgaste. Mas esse é, sem dúvida, um dos meus grandes medos.
– E sente-se suficientemente segura de forma a contornar esses percalços?
– Sim, sem dúvida. É engraçado, porque sou uma pessoa tímida, como traço de carácter, mas já fiz tantos palcos que, por mais pessoas que estejam à minha frente, sinto-me bem. Estou a fazer aquilo para o que nasci, que é cantar, por isso sinto-me protegida.
– Já subiu a mais de 300 palcos. Ainda se sente nervosa antes de entrar em palco?
– Depende das situações. Não tem que ver com a importância do palco… Por exemplo, quando vou pela primeira vez a uma cidade ou a um país, sinto-me mais nervosa, porque não sei que tipo de público vou encontrar.
– Tem algum ritual antes de entrar em palco ou algo que goste de fazer para se sentir mais segura?
– Antes de entrar em palco, gosto sempre de estar uns minutos com os meus músicos, de sentir a energia deles. Será o único ritual.
– Sente que deixou algum sonho por concretizar para se dedicar à sua carreira?
– Um sonho não, mas uma nostalgia por não estar com os meus amigos em determinados momentos, isso sinto. Quando olho para os álbuns de fotografia deles, começo a questionar-me sobre o que estarei a desperdiçar dos meus 20 anos, mas estou feliz… Tenho uma enorme dificuldade em recusar trabalhos, entreguei-me completamente à minha carreira, mas este ano vai ser diferente. Vou dar-me ao ‘luxo’ de gozar alguns fins-de-semana.
– Começa a pensar mais em si?
– Sim, está na altura.
– Tem sido distinguida com alguns prémios de prestígio. Encara-os como um incentivo ou não lhes dá grande importância?
– Fico feliz. Estes incentivos confirmam-me que estou no caminho certo.
– E que valeram a pena todos os sacrifícios?
– Exactamente, e que são muitos.
– Em relação ao cantor Prince, na altura falou-se muito de fazerem um projecto juntos…
– Na altura, as pessoas falaram muito nisso. O Prince gosta muito da minha música, ouve a minha música, e esse foi o contacto que houve. Neste momento, somos amigos, temos feito algumas experiências musicais, mas ainda nada que possa passar para o público. Ele tocou músicas minhas, eu cantei-as, ele também já compôs algumas músicas – e isto é uma informação em primeiríssima mão -, mas ainda não é nada de que eu possa falar. Aliás, nem quero sentir essa pressão. Já quando foi com os [Rolling] Stones, senti muito essa pressão, de falar das músicas que iria gravar no projecto… Esta experiência com o Prince está a ser musicalmente muito enriquecedora para mim, enquanto pessoa, portanto, queria muito usufruir deste momento e não queria estar a sentir-me pressionada para apresentar alguma coisa.
– Quer dizer que, desde então, se têm encontrado para trocar experiências?
– Exactamente.
– E vai ter com ele, ou é o Prince que vem a Portugal e nós não sabemos?
– Vocês não souberam quando ele cá esteve e eu também já fui ao estúdio dele. [risos]
– A sensualidade é uma das características que costumam associar à sua voz. Considera-se uma mulher sensual?
– Acho que a sensualidade está associada ao fado, à música que canto, e, portanto, é misteriosa, sensual. Dessa forma, sim, as pessoas relacionam o meu timbre de voz, que é mais velado e encorpado, com um timbre associado à sensualidade, à música soul.
– E quando não está em palco?
– Sou bastante feminina e muito romântica. Gosto do jogo da sedução, acho bonito. Costumo dar este exemplo: a minha avó, mesmo sabendo que não vai sair à rua, põe sempre os brincos dela. Olho para ela e penso: quando tiver a idade dela quero ser assim, porque isto é bonito, é muito saudável, é gostar de si própria, que é muito importante.
– É uma mulher vaidosa?
– Sim. Bom, a vaidade pode ser conotada de várias formas…
– Vaidade no sentido de gostar de cuidar de si, de se olhar ao espelho antes de sair de casa?
– Sim, olho sempre. Mas, por exemplo, se estiver com outras pessoas, não gosto de o fazer, porque acho que os espelhos nos atraem, nos distraem daquilo que se está a passar no momento, do contacto com os outros. Por exemplo, agora vou começar a decorar uma nova casa que tenho…
– Ah… uma novidade, pois ainda morava com os seus pais?
– É verdade… mas vou começar a decorar a casa e não quero espelhos, a não ser na casa de banho.
– Começou a sentir falta do seu próprio espaço?
– Sim, um espaço para receber os meus amigos. Fica perto da casa dos meus pais, na Linha de Cascais, e tem uma vista para o mar muito inspiradora. Ali sinto-me segura e feliz por estar perto das pessoas que me conhecem não como a Ana Moura mas como a Ana do bairro.
– Acha que lhe vai custar o corte do cordão umbilical, ou encara com entusiasmo esse momento?
– Com entusiasmo, porque já sinto imensa necessidade de o fazer, apesar de andar sempre na estrada e passar imenso tempo nos hotéis, portanto, também acabo por sentir saudades da casa dos meus pais e do carinho deles. Aquilo que me assusta é saber que vou vê-los ainda menos.
– Li algures que, em determinada altura da sua vida, pensou em não ter filhos…
– Houve uma altura em que eu nem sequer pensava nisso, mas nunca me passou pela cabeça não ter filhos. Se tenho algum sonho, é ter filhos. Aliás, tenho uma sobrinha com quem tenho uma relação linda, portanto, quero um dia ter filhos. Adorava ter vários, uma casa cheia, mas não sei se vou ter tempo para isso.
– Mas já sente o apelo da maternidade?
– Já começa a despertar o relógio biológico, mas ainda não é a altura certa.
– Há algum tempo que assegura não ter ninguém especial ao seu lado, até porque a sua vida não é muito propícia a manter relações…
– Sim, é isso mesmo. É complicado manter relações com a vida que tenho. Para uma pessoa que não entenda muito bem o meio, é complicado, porque estou sempre a viajar. Não é fácil aceitar este tipo de vida… Depois, estou sempre a conhecer outras pessoas, e há homens que não lidam muito bem com isso. Os homens gostam de sentir o controlo de tudo, e eu sou muito independente.
– Quer dizer que neste momento não existe essa pessoa na sua vida?
– Não sei, ainda estou a tentar perceber. [risos]
CLIQUE PARA SUBSCREVER A NEWSLETTER DA CARAS
Siga a CARAS no
Facebook
e no
Twitter
!