Habituou-nos a imagens e declarações excêntricas, mas garante que não gosta de falar de si. A sua atitude na vida é a da busca da felicidade, o seu ‘graal’, já que acredita que ela nunca chegará. Paula Bobone assume-se do jet-set, escritora de livros de auto-ajuda, boas maneiras, etiqueta e organização – quem não se lembra de Socialmente Correcto? – e é professora em duas universidades, embora reformada.Casada há 37 anos com o arquitecto e pintor Vasco Bobone, com quem tem uma filha, Sofia, de 25 anos, já formada em Direito, Paula Bobone passou um fim-de-tarde à conversa com a CARAS e mostrou-se sem máscaras. Diz pertencer "a certa burguesia com alguns meios de sobrevivência, embora não sejamos nem pouco mais ou menos ricos", e não se pense que a excentricidade a faz esquecer o resto do mundo: "Há pessoas com muitas dificuldades e os nossos governantes não estão minimamente preocupados com elas, principalmente no que toca à Educação."O sucessor de Manual de Instruções para Homens de Sucesso está na calha e afirma que há sempre mais um livro para nascer. "Pertencemos a uma certa burguesia com alguns meios de sobrevivência, embora não sejamos nem pouco mais ou menos ricos." – As pessoas precisam de cada vez mais ajuda?Paula Bobone – As pessoas procuram a felicidade e ela passa por terem o controlo da sua vida. Cada grupo social tem a sua etiqueta e as pessoas têm necessidade de conhecer os códigos. Quando nascem, têm direito a ser educadas. As crianças adoram que lhes programem a vida, que as ensinem, e às vezes as famílias estão-se perfeitamente nas tintas para isso. Depois, chega-se à conclusão que nas universidades e nos empregos há exclusão, e porquê? Porque não têm conhecimento das regras do jogo. Daí eu perceber que era extremamente útil transmitir às pessoas essas convenções e regras de saber estar. "Pertencemos a uma certa burguesia com alguns meios de sobrevivência, embora não sejamos nem pouco mais ou menos ricos." – Sempre foi extravagante e excessiva, como se define?- Curiosamente, não. Em miúda era um bocadinho espevitada, mas não me deram muita largueza. Na adolescência era introvertida e tímida. Depois casei-me e mais tarde nasceu a Sofia. Tive uma enorme depressão e foi depois dela que eu diria que a minha vida virou 180 graus. Mudei muito porque a depressão fazia-me ver o mundo negro e deixei de conseguir perceber a minha alegria e a dos outros. Foi devido às recomendações médicas que comecei a sair e a divertir-me, o que no fundo era fugir de mim. Essa altura coincidiu com o boom das revistas de social e surgiu o dito jet-set em que me inseri, porque comecei a aparecer tanto que necessariamente era fotografada. Deu-se uma metamorfose enorme na minha vida, porque esqueci os problemas, e entrei neste carrossel de festas. Há uma razão muito forte para as coisas acontecerem e uma coisa que era má transformou-se numa coisa boa. E foi de tal maneira importante na minha vida que até comecei a escrever sobre isso. "Comecei a sair por recomendação médica (…). Mudei muito, a depressão fazia-me ver o mundo negro e deixei de conseguir perceber a minha alegria e a dos outros." – Via-se neste meio sem contribuir com algo?- Não, não. Eu não tenho pesos na consciência por ter um ar festivo e de parecer fútil, porque utilizo os média para passar a minha mensagem, e ela é a do meu trabalho. Gosto muito da ironia e do nonsense, uso-os na minha maneira de me expressar. Nasci assim, foi uma questão da educação. Não me importo nada de ser mediática porque, no fundo, é uma prova do meu trabalho. Não só escrevo livros, como dou aulas. Além disso, arrasto o Vasco na minha esteira. Tenho dentro de mim uma rebeldia inexplicável que me faz ser diferente, ter estilo, e levar as coisas para além do horizonte. Quero ser feliz, e isso é controlar a minha vida. Procuro a felicidade, nunca a encontrarei com certeza, mas ando sempre atrás dela. "Às vezes, no dia-a-dia, os meus excessos são cansativos." – Como é que o seu marido encarou esta nova mulher?- Somos casados há 37 anos, encontrámo-nos os dois a estudar cultura e língua italianas numa universidade em Itália e achámos imediatamente graça um ao outro. Éramos os dois únicos portugueses e ele foi um bocadinho o meu guarda-costas, porque os italianos eram muito atiradiços. O nosso entendimento é o da harmonia dos contrários, porque ele é a minha antítese. Temos algumas coisas em comum, como o sentido estético e acharmos tudo muito divertido num distanciamento irónico que nos permite encontrar graça em coisas que às vezes não a têm. Às vezes, no dia-a-dia, os meus excessos são cansativos. Sou do signo Carneiro, o que significa uma liderança excessiva. Em casa sou muito protagonista e esmago um bocadinho as pessoas à minha volta, mas como lá em casa a mentira não existe, acabamos por achar graça uns aos outros e nunca amuamos. "Tenho dentro de mim uma rebeldia inexplicável que me faz ser diferente, ter estilo, e levar as coisas para além do horizonte." – A sua filha é o oposto de si?- É, por reacção à mãe. Não acha graça nenhuma à nossa faceta mediática, principalmente à minha, mas já lhe foi dito, e ela já percebeu, que faz parte do nosso trabalho, é uma espécie de publicidade da nossa vida artístico-profissional. Ela é low profile até não se aguentar. É advogada e estou muito contente com a carreira dela. É muito séria no seu projecto de vida e eu estou muito contente… É tão bom ter filhos! Ela tem uma personalidade muito afirmada, muito séria… mas também é uma questão de gerações. Ela nasceu em 83 e eu em 45. Tínhamos ambos 39 anos quando a Sofia nasceu. Foi muito engraçado. – Tem pena de não ter uma família numerosa?- Pena não, porque não tenho pena de nada na vida. As coisas que me aconteceram geri-as bem. Se tivesse tido muitos filhos, também teria sido um encanto, porque adoro crianças e adoro educar. Achei muita graça ao processo de educação da minha filha. Nasceu como se fosse uma flor num vaso. Ela assimilou, foi rebelde também, mas nunca houve nada entre nós que nos deixasse tristes.
Paula Bobone: “Quero ser feliz, e isso é controlar a minha vida”
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