Nasceu na Costa do Marfim, há 24 anos, e quando chegou a Portugal, com seis anos, foi morar para Odivelas. No mesmo prédio em que vivia João Ganço – antigo recordista nacional de salto em altura. Tornou-se amigo de um dos três filhos do desportista, David. João Ganço viu-o correr e convenceu-o a inscrever-se no atletismo, onde David já andava. Hoje, Nelson Évora é um dos nossos melhores atletas, tendo batido vários recordes nacionais e internacionais em 2007, ano em que se sagrou campeão do mundo de triplo salto nos Mundiais de Osaka, no Japão. Agora, o atleta prepara-se para dar o seu melhor nos Jogos Olímpicos de Pequim, onde vai defender as cores de Portugal no triplo salto, no dia 21 de Agosto. "Muitas vezes dou passos atrás para reorganizar a minha vida e depois começar tudo de novo." (Nelson Évora) – Que recordações guarda da Costa do Marfim?Nelson Évora – Era muito novo, mas lembro-me perfeitamente da casa, da escola, dos amigos, de tudo. Tenho boas recordações e hei-de voltar, porque tenho curiosidade de ver tudo o que lá ficou. – Gostava de ter tirado um curso superior e não conseguiu, por causa dos treinos…- Mas também faço algo importante, de que gosto muito. Quem estivesse no meu lugar tomaria a mesma opção… Mas hei-de tirar o meu curso, é um dos meus objectivos de vida e é algo que me vai dar muito gozo fazer. – Vai ter muitas pessoas de olhos em si, com esperança de que suba ao pódio em Pequim. Se isso acontecer, vai continuar a treinar para as próximas Olimpíadas?- Claro, aconteça o que acontecer, continuarei a treinar para o próximo ciclo olímpico, mas também para os Campeonatos do Mundo e da Europa. Tenho 24 anos, sou um atleta jovem, tenho possivelmente mais duas edições dos Jogos Olímpicos para fazer, por isso vou continuar a treinar. – Costuma dar passos maiores do que as pernas?- Nunca. – E passos atrás?- Muitas vezes dou passos atrás para reorganizar a minha vida e depois começar tudo de novo. – Nesta altura está a três passos da vitória…- Sim, o triplo salto da vitória. Aqui já não há passos atrás a dar, é tudo para a frente. Os três maiores que conseguir! – Quantas horas por dia treina?- Depende de várias coisas: das horas do treino, do estado do tempo, se tenho de fazer recuperação depois… Mas normalmente são três horas por dia. "Aconteça o que acontecer, continuarei a treinar para o próximo ciclo olímpico." – Em que pensa um atleta nos segundos que antecedem os saltos?- Em acumular o máximo de energia e soltá-la toda naquele momento. Quando entro no corredor tenho de me sentir o mais confortável possível. Se isso acontecer, quer dizer que estamos bem. – E o pior que pode acontecer nessa altura é?- Não ter vontade de arrancar. – Acontece?- Às vezes, mas normalmente isso acontece porque algo está mal fisicamente, ou temos dores ou medo de nos aleijarmos. – Mas é preciso ter o espírito positivo e pensar que vai correr tudo bem?- Sim, é verdade. – Se ganhar uma medalha, a quem a vai dedicar?- Ao meu pai. Porquê? Porque ele merece. Os meus pais merecem, por tudo o que me deram até agora, pelo que fizeram para que eu conseguisse ser o que sou hoje. Apoiaram-me desde o início, incondicionalmente. O meu pai está um bocado doente, e quero-lhe dar essa alegria, para ver se ele fica feliz e mais animado. – Eles não vão aos Jogos?- Não vão poder ir, mas vão acompanhar a minha prova como em Osaka. Nessa altura devem estar em casa do meu irmão mais velho, na Bélgica, com os netos. "O pior que pode acontecer antes de um salto é não ter vontade de arrancar, mas normalmente isso acontece porque algo está mal fisicamente."
Nelson Évora a três passos da vitória
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