Quem olha para Telma Monteiro, sempre com as suas calças desportivas ou o seu fato de treino azul, não imagina a mulher feminina e de sorriso doce que esconde. Com apenas 22 anos, a judoca tem um palmarés invejável – ocupa o segundo lugar do ranking mundial – e sabe muito bem quais são as suas prioridades. Depois da morte de uma das suas referências no judo, o treinador António Matias, em Janeiro último, Telma teve ainda de ultrapassar uma lesão que a impossibilitou de participar no Campeonato Europeu de Judo, em Abril. Contudo, a jovem atleta demonstrou toda a sua força e é com determinação que se prepara para competir nos Jogos Olímpicos, em Pequim. Foi numa conversa sobre a vida que escolheu e os sonhos que a movem que a CARAS conheceu a mulher que está do outro lado do tapete. – Quando começou a praticar judo ainda era muito nova…- Tinha 14 anos e apaixonei-me por esta modalidade. Quando uma pessoa entra para um desporto de alta competição, acaba sempre por amadurecer mais cedo. Há coisas que deixamos de fazer. Mas foi uma opção muito consciente e não me arrependo de nenhuma escolha que fiz. Só pratico este desporto porque sou feliz. Os treinos nunca foram um sacrifício. – Até agora qual foi o momento mais marcante na sua carreira?- Embora já tenha conseguido o segundo lugar no Campeonato do Mundo, penso que o momento alto da minha carreira até agora foi participar nos Jogos Olímpicos de 2004. Era muito nova e não era suposto conseguir o apuramento, porque ainda era júnior, e consegui ficar entre as cinco melhores seniores da Europa. E isso é uma coisa que me vai marcar sempre. – Como é que está a antecipar mais uma participação nos Jogos Olímpicos?- Um dos meus maiores sonhos era chegar aos Jogos Olímpicos. Só espero dar o meu melhor e que isso chegue para ganhar uma medalha. Subir ao pódio é o que mais quero, mas sei que não é uma opção, é mais um sonho. E trabalho muito para realizá-lo. Penso em tudo isto de forma muito tranquila, não vivo obcecada com os Jogos Olímpicos. – Está ansiosa?- Estou expectante, mas não estou nervosa. O apuramento é difícil, e isso já consegui. Agora é ir, competir e trazer uma medalha. Pode parecer uma presunção, mas a verdade é que trabalho muito e já consegui alcançar várias coisas. Vou dar o meu melhor, mas isso não me garante que chegue lá e consiga ganhar a medalha. Se não conseguir vencer, sou eu quem vai ficar mais triste. Não vou esconder o que quero, mas, se não ganhar, não vou ver isso como um falhanço. – Não teve um início de ano fácil, com a morte de António Matias, e, depois, uma lesão. Como é que lida com as tristezas?- Tenho um grande apoio familiar. Sou uma pessoa que se fecha muito, e é assim que lido com as dificuldades. Não me deixo ir abaixo e continuo sempre a treinar. É verdade que não tive um começo de ano fácil, mas é preciso continuar e encarar o futuro sempre com optimismo. – Estar sempre em competição mudou a sua personalidade?- Mudou, mas penso que o meu feitio também contribuiu para entrar na competição. Por um lado, sempre tive uma personalidade forte e muito determinada, por outro, porque a competição me tornou uma pessoa mais disciplinada. Qualquer atleta tem de ser disciplinado para ter sucesso. – Não sente falta de tempo para si?- Claro que sinto. E em certos momentos tenho vontade de não ter nada para fazer. Contudo, se não tiver a rotina do treino, também me canso. Tenho pouco tempo livre, mas não me sinto controlada. – E há espaço na sua vida para namorar?- Neste momento não namoro, mas, se quiser, tenho tempo para namorar. Não gostava de ter um relacionamento com alguém do judo. Queria apaixonar-me por uma pessoa fora do meio. Gosto de separar as coisas, o que permite a cada um ter o seu espaço. Já namorei com uma pessoa do judo e preferia não repetir a experiência. [risos] Quero alguém que seja compreensivo e me aceite como sou. – Sente-se menos feminina por andar de roupa desportiva?- Não. Há dias em que tenho vontade de sair de casa mais arranjada. Mas como a minha vida são os treinos, não é muito prático andar sempre produzida. Sou vaidosa, mas não faz parte do meu estilo andar de vestido. – Quando está em competição, tem de estar na sua melhor forma. Isso implica fazer dietas?- Não sou de fazer dietas, e devia ter maior controlo sobre o meu peso. Só faço dieta um mês antes das competições e custa-me muito, porque adoro comer. Ter de perder peso é a única coisa de que não gosto no judo. – Como é que imagina a sua vida depois da competição?- Gostava de competir até aos 30 anos. E depois quero continuar ligada ao judo. Vejo-me a ensinar e a contribuir para o desenvolvimento da modalidade em várias zonas do País. A nível pessoal, gostava de ter a minha família, mas tenho de ter a vida muito bem estruturada para que isso aconteça. Será sempre uma coisa que vai acontecer a médio ou longo prazo.
Telma Monteiro revela o seu lado mais feminino e romântico: “Quero alguém que seja compreensivo e me aceite como sou”
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