O Espaço das Aguncheiras, perto do cabo Espichel, foi o local escolhido para esta produção fotográfica. Uma opção óbvia, já que é ali que mãe e filha se dedicam, há quatro anos, a gerir uma cooperativa cultural para a qual contribuem as ideias e ajudas de vários amigos. O objectivo é descentralizar o teatro, paixão comum de São José Lapa, de 57 anos, e de Inês Lapa Lopes, de 33, cuja sintonia é evidente. Dia 5 de Julho estreiam O Tio João, adaptação de O Tio Vânia, de Anton Tchekov, numa encenação de São José e cenografia de Inês, na qual participam ambas como actrizes. Mais um sinal da cumplicidade e sintonia de ambas, que foi bem evidente durante esta tarde soalheira que passaram connosco. – Já trabalharam juntas várias vezes e preparam-se para dividir novamente o palco. Não se torna complicado?São José Lapa – Só utilizaria a palavra complicado no sentido em que o à-vontade entre nós é tão grande que é mais fácil apontar alguma coisa do que a um mero colega.Inês Lapa Lopes – A minha mãe é muito directa em tudo o que diz e não apenas a mim, comigo só me chateia quando começa a dizer que estou muito magra. [risos] – Isso é uma atitude típica de mãe…- Claro. Por um lado, somos profissionais e evitamos misturar as coisas, por outro, não conseguimos deixar de ser mãe e filha. – Costumam ser críticas uma da outra? São José – A minha filha tem uma coisa maravilhosa, pois é muito delicada, ao contrário de mim. [risos] – Não será essa diferença que vos complementa? – Provavelmente, sim… – Esta é uma profissão de altos e baixos. Nunca aconselhou a Inês a seguir outro caminho? – Nunca lhe facilitei nada, caso contrário, ela teria começado no teatro muito antes, mas também nunca a impedi. Inês – Eu fui educada pela minha mãe e foi com ela que sempre vivi, por isso, também assisti aos altos e baixos da profissão, e isso também me demoveu, de alguma forma. – Será que o facto da Inês ser filha única e filha de pais separados levou a São José a querer prepará-la mais rapidamente para enfrentar o mundo? São José – Não foi necessário, até porque ela sempre foi extraordinária e preparava-se por ela própria. Sempre quis foi que ela tivesse noção do que é esta profissão. – A Inês sente o peso do apelido? Inês – Tenho de confessar que sim. Aliás, eu assino Inês Lapa Lopes, pois tenho uma admiração artística muito forte tanto pelo meu pai [Alberto Lopes, músico e encenador], como pela minha mãe. Mas sei que as pessoas me associam mais à minha mãe, e isso tem tanto de positivo como de negativo. Por um lado, há quem empatize de imediato comigo por causa da minha mãe, mas também há quem hostilize. O mundo também acaba por se equilibrar dessa forma. [risos] – A São José é uma mãe-galinha?São José – Completamente, e sou muito chata. O meu pai foi assim até ao dia em que morreu, há meia-dúzia de meses, e eu sei que vou ser igual. Preocupar-me-ei sempre. – Sente a falta do seu pai?- Claro que sim, e de vez em quando ainda me deprime um pouco pensar que morreu, mas se calhar também é por isso que este ano me sinto mais em baixo. Pois dois meses depois da morte do meu pai perdi a minha mãe. – Além das semelhanças físicas entre vocês, são parecidas em termos de personalidade?Inês – Claro que sim, mas também tenho muita coisa do meu pai e já vou tendo alguma só minha. [risos] – Qual a melhor recordação que têm juntas?São José – A memória nunca há-de ser a mesma… Eu gosto sobretudo quando a Inês pinta e expõe, mas também representa, e aí fico com o meu ego elevadíssimo.Inês – Houve momentos, aqui no Espaço das Aguncheiras, em que vi a minha mãe cansadíssima, mas a fazer aquilo que mais gosta, e nesses momentos ela irradia uma energia e uma felicidade que faz com que eu também fique feliz por associação. – Esta forma positiva que a sua mãe tem de encarar a vida é o que mais admira?- Sim, além da capacidade, sem qualquer reserva, de transmitir tudo aquilo que sabe aos outros, para que eles evoluam. – A Inês ainda não foi mãe. É uma novidade por que ambas anseiam?São José – Já tive momentos em que quis mais do que agora. Agora, a Inês e o marido é que sabem.Inês – Comecei a pensar nisso agora, o que é uma coisa estranha, pois nunca sonhei ser mãe. Tenho um lado muito prático na vida e custa-me trazer mais uma criança ao mundo. As pessoas têm alguma dificuldade em entender isto, mas para mim é muito forte e preocupa-me pensar que se um dia tiver um filho, ele possa não ter água potável quando chegar à minha idade. – Entretanto, têm-se dedicado ambas a este espaço, que a São José comprou há nove anos…São José – Trabalhei no Teatro Nacional durante vinte e muitos anos e quando de lá saí precisei, naturalmente, de fazer o luto. Foi precisamente na altura em que comprei esta quinta. Ainda estive aqui três anos, pacificamente, a ‘aboborar’ e a desfrutar da Natureza, com os meus pais, que estavam velhinhos, mas ainda cá vinham.Inês – Depois de algumas experiências, eu acabei por aconselhar a minha mãe a fazer aqui qualquer coisa que tivesse que ver com o teatro, visto ser essa a nossa área.São José – E tem sido assim desde então. Já fizemos muita coisa e todas elas nos exigem grande esforço.
São José Lapa e a filha, Inês, juntas na vida e no palco
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