Das quatro protagonistas de Sexo e a Cidade, Miranda Hobbes é, provavelmente, a que mais muda ao longo da série. A personagem interpretada pela actriz Cynthia Nixon começa por ser uma mulher independente e uma profissional bem sucedida, que vive quase em exclusivo para a advocacia e revela enormes dificuldades em se expor numa relação amorosa duradoura e de compromisso (a dada altura assume que já dormiu com 42 homens), e é, de uma forma ainda mais snobe que as suas amigas, completamente viciada em Manhattan, para acabar casada com Steve – um empregado de bar que ama, mas demora a aceitar, precisamente por desvalorizar o seu trabalho -, mãe de família e a viver num bairro que é tudo menos chique: Brooklyn. Numa entrevista exclusiva, Cynthia Nixon, que tem uma premiada carreira como actriz da Broadway, assume que tem semelhanças com a personagem que lhe valeu a fama internacional. Uma delas é, precisamente, o facto de ter mudado ao longo dos anos. A maior dessas transformações terá sido sexual: a actriz, que viveu cinco anos com o professor de Inglês Danny Mozes, de quem teve dois filhos, Samantha, de 11 anos, e Charles Ezekiel, de cinco, assumiu, em 2006, o seu envolvimento com uma mulher, Christine Marioni, com quem diz ser muito feliz. Cynthia, a quem em 2006 foi diagnosticado cancro da mama, só o assumiu publicamente em Abril deste ano, tornando-se, desde então, uma das caras da luta contra a doença. – Miranda mudou muito desde a última vez que a vimos?- Quando a série começou, Miranda era muito seca, parecia ter raiva de tudo, mas foi amolecendo e começando a acreditar nas pessoas. Ela sempre foi reservada, mas mudou com a relação com Steve e, mais importante ainda, com o bebé e o casamento… E no filme tudo isso é de novo posto à prova. Ela está estabilizada na profissão, ainda mora em Brooklyn – e continua a não gostar -, mas enfrenta problemas no casamento. – Identifica-se com ela?- No fim da série perguntaram-me se eu gostava da personagem e eu dei por mim a dizer: "Somos basicamente iguais." [risos] Acho que ambas somos muito racionais e ambas temos inseguranças – mas ela cobre as dela com aspereza e raiva. E somos as duas independentes, mas ela é mais ambígua, no sentido de não saber se quer ou não ser mãe, se vai ser boa em certas coisas ou não. Acho que Miranda começou confiante e eu meio envergonhada; ela começou dura e terminou leve. – E aprendeu alguma coisa com ela?- Miranda é muito mais confrontadora do que eu e com ela tornei-me um pouco mais contestária. – As pessoas param na rua para lhe pedir conselhos ou, melhor, para pedir conselhos a Miranda?- Tenho uma grande vantagem em relação às minhas colegas: a minha personagem é muito fechada e as pessoas têm algum receio de se chegar a mim. E quando o fazem é com perguntas mais genéricas, como: "Estou de visita a Nova Iorque, quais são os lugares que estão na moda?" E eu não faço a menor ideia! [risos] – Mas não sai à noite, não frequenta os locais que estão na moda?- Para mim não há nada melhor que Central Park, acho até que levar as crianças se tornou uma desculpa para lá ir… [risos] – Na série, as quatro amigas são todas fashion victims. Na vida real, a Cynthia é assim?- Não, nem um pouco, mas foi bom poder ficar com roupas, malas e sapatos que usei na série. Os sapatos já estão a passar de moda, mas as roupas são intemporais. Tenho de confessar que nem sempre ando tão bem arranjada na vida real. [risos] – Há algumas diferenças entre as personagens da série e do filme?- No filme estamos mais velhas e muito mais focadas nas nossas vidas. Na série saíamos com muitos homens e os relacionamentos eram de cinco minutos. Agora, temos maridos e as que não estão casadas têm relacionamentos sérios. Já não há conversas do tipo: "Sabes o que me aconteceu ontem à noite?" Estabelecemos os nossos territórios e unimo-nos para nos ajudarmos umas às outras. Ainda é divertido, ainda é inusitado, mas é tudo mais maduro. – A sua filha, Samantha, tem apenas 11 anos. Já a deixa ver a série?- Eu deixei-a ver um episódio quando ela era mais pequena, mas já não se lembra. Acho que ainda não está numa fase em que a série lhe interesse, mas um dia vai interessar. – Tem sido fácil conciliar o seu papel de mãe com a profissão de actriz?- É uma óptima profissão para quem quer ser mãe, porque tenho alguns períodos em que o trabalho é intenso, mas tenho meses e meses sem fazer nada. Isso permite-me estar com as crianças no dia-a-dia, o que é muito bom. – As suas rotinas de beleza ficaram mais fáceis desde que deixou de pintar o cabelo de ruivo?- Sim! O meu cabelo natural é loiro e sou feliz assim, mas confesso: apesar de ser uma trabalheira e de não ser saudável para os cabelos, às vezes sinto falta do ruivo… Sinto que quando estou loira pareço aveia, o cabelo e a pele ficam da mesma cor! Preciso de usar um batom bem marcante para não parecer completamente deslavada. [risos] – Fez 42 anos em Abril. O que é que a idade mudou em si?- Acho que estou mais tranquila, mas não penso que seja hormonal ou que tenha que ver com a idade, mas sim com o facto de me ter forçado a não ser tão acelerada. – Não sentiu a "crise dos 40"?- Não, eu fiz foi uma grande festa! E mesmo que não tivesse celebrado, chegar aos 40 foi um ponto decisivo de transição, sinto que alcancei um nível mais elevado. Foi muito bom, porque estava numa fase muito feliz (deve ser muito mais difícil subir esses degraus quando se está infeliz). Também comecei a pensar mais a sério em concretizar projectos antigos, coisas que sempre tive vontade de fazer, como realizar um filme. Hoje vivo de forma mais corajosa e arriscada. – E a nível pessoal, o que é que gostaria de concretizar?- Adoraria viajar mais. Adoraria ir a França, nunca lá estive, e a minha namorada, Christine, tem amigos e parentes lá, e também em Itália. – Miranda encara uma série de desafios ao assumir o casamento. Para si, qual o segredo para se manter uma relação?- É muito fácil deixarmos a pessoa amada para segundo plano, porque tendemos a achar que aquela pessoa vai estar sempre lá, mas assim a relação acaba por morrer. Acho realmente importante encontrarmos tempo para o outro, fazermos coisas juntos como bons parceiros, nem que seja preparar o jantar ou pôr as crianças na cama. – Ela é uma advogada de sucesso que acaba por se casar com um empregado de bar. Que lição tirou dessa reviravolta na vida dela?- Que o melhor é estarmos abertas ao que nos vai acontecendo na vida. – Aos 20 anos, sonhava com a sua vida futura? Era mais ou menos assim?- Sonhava, mas não necessariamente que seria com alguém a meu lado. Sempre tive a certeza de que queria ter filhos, mas quanto ao casamento não era tão segura. E posso dizer que vivo uma relação muito feliz, estamos juntas há cerca de quatro anos. – Enquanto nova-iorquina e estrela de uma série filmada na cidade, o que acha que faz de Nova Iorque uma cidade tão especial?- Talvez a diversidade de pessoas. Temos gente de todas as nacionalidades, religiões e culturas, o que proporciona estilos de vida muito diferentes. É tudo muito rico. Eu realmente amo a energia das ruas. Pela minha experiência, é um sítio óptimo para crescer e para criar filhos e acho que também para se envelhecer, pois tudo está à mão. O meu maior pesadelo, enquanto mãe, é ficar fechada em casa sem ter como ocupar as crianças. Aqui, pomos as crianças no carrinho, andamos um pouco e encontramos um parque infantil. Em Nova Iorque não precisamos de fazer planos, basta andarmos nas ruas e as coisas acontecem. – Acha que por morar em Nova Iorque foi mais fácil assumir a sua homossexualidade?- Sim, e para os meus filhos também. Ele ainda é muito pequeno, mas, para ela, ainda que tenha sido estranho, foi fácil. Temos amigas gay, as madrinhas deles são gays, e acho que tudo teria sido completamente diferente se vivêssemos noutro lugar. – Tem amigas como Samantha, Charlotte e Carrie?- Tenho! O meu grupo de amigas é do tempo do liceu e temos o mesmo tipo de união. Só não nos encontramos com a mesma frequência com que elas se encontram, o que, aliás, seria insano. – Conhece a Sarah Jessica Parker há muitos anos…- Sim, desde a infância! – E o que é que costumam fazer quando estão juntas? Compras?- Nós não fazemos compras. Quer dizer, eu não faço, ela faz! [risos] Vamos muito ao cinema e saímos para jantar. – E as pessoas olham duas vezes, para ter a certeza que são vocês?- Sempre! Acho que as pessoas ficam mais empolgadas quando vêem duas de nós juntas. E quando vamos as quatro juntas a um restaurante, por exemplo, invariavelmente têm de nos pôr numa área mais reservada, para não causar tumulto! [risos] – O ano passado liderou uma caminhada por Nova Iorque em prol de uma campanha de prevenção e ajuda a doentes com leucemia. Que outras causas beneficentes apoia?- Faço algumas actividades com crianças de escolas públicas e apoio acções de luta contra o cancro.
Cynthia Nixon: “Hoje vivo de uma forma mais corajosa e arriscada”
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