Madeleine desapareceu do apartamento onde a família passava férias, na Praia da Luz, Algarve, a 3 de Maio de 2007. Um ano depois, tudo mudou na vida da família McCann. O pai, Gerry, de 39 anos, passou a acumular o trabalho de cardiologista com o de gestor de uma campanha pela busca da filha. Vive os dias preocupado com a mulher, Kate, de 40, a quem telefona várias vezes ao dia, para controlar o seu estado de espírito e garantir que se está capaz de tomar conta dos dois filhos gémeos, Sean e Amelie, de três anos. E dedica boa parte dos seus esforços a tentar que lhes seja retirado o estatuto de arguidos. Quanto a Kate, vive mergulhada numa depressão que a faz rejeitar a ideia de algum dia regressar ao seu trabalho como médica anestesista, mesmo que isso implique um menor conforto financeiro para a família. Passa semanas isolada na sua mansão, em Leicester, de onde sai apenas para ir levar e buscar os filhos ao colégio. Sean e Amelie vão-se adaptando à ausência da irmã, apesar de demonstrarem não a ter esquecido. Durante a semana, frequentam um colégio local onde convivem com outras crianças da sua idade e ao fim-de-semana acompanham os pais à missa, depois de alguns momentos num parque infantil. A verdade é que, como admite Clarence Mitchell, porta-voz do casal, "apesar de Kate e Gerry fazerem o seu melhor para viverem uma vida normal, não são capazes". Os dois médicos vivem os seus dias com a esperança e a crença de que a ausência de provas da morte de Madeleine significa que ela ainda está viva. "Gerry tenta ultrapassar, mantendo-se activo. Mergulhando no seu trabalho e na campanha", conta Clarence Mitchell. Kate, diz o porta-voz dos McCann, é mais vulnerável: "Ela leva os gémeos ao infantário e ocupa a maior parte do tempo na gestão da campanha para encontrar a Madeleine. Kate tem os seus altos e baixos. Uma reportagem em particular ou uma nova comunicação da Polícia Judiciária podem deixá-la de rastos e, então, leva algum tempo para voltar para cima." Enquanto Gerry regressou ao trabalho a tempo inteiro, recuperou a rotina de fazer jogging de manhã e de levar os gémeos a passear ao fim-de-semana, e, "quando chega a casa, trabalha na campanha para encontrar Madeleine, como se de um segundo emprego se tratasse", Kate mostra-se incapaz de recuperar essa mesma rotina. Apesar de, como esclarece o porta-voz, estar "determinada em criar uma vida familiar tão normal quanto possível para os gémeos", a médica vive angustiada, isolou-se, tem receio de enfrentar as pessoas e, gradualmente, parece estar a perder a vontade de viver. Uma existência completamente distinta da que os McCann tinham antes do desaparecimento da filha mais velha. As corridas a dois pela manhã, os passeios de bicicleta, as festas com os amigos e as férias em família deram lugar ao isolamento. "Na verdade, a vida deles não pode ser normal. Toda a situação domina qualquer aspecto das suas vidas. Celebraram o terceiro aniversário dos gémeos, tal como seria esperado, mas desde que a Madeleine desapareceu, não celebraram mais nada. Kate fez recentemente 40 anos sem que esse dia fosse assinalado", revela Mitchell. No dia 3 de Maio, data em que se assinala um ano do desaparecimento de Madeleine, também não haverá celebrações. Kate e Gerry McCann insistem, como nos faz saber o seu porta-voz, "em assinalar esse dia de forma privada". Descartada está a hipótese de o fazerem em Portugal, embora admitam um regresso ao país onde a filha desapareceu. Com os McCann impedidos de dar entrevistas – pelo segredo de justiça e também pelo acordo que assinaram com um canal televisivo que transmitirá um documentário por ocasião do primeiro aniversário do desaparecimento de Maddie -, é Mitchell quem fala da forma como Sean e Amelie estão a lidar com a ausência da irmã. "Eles sabem o que aconteceu e às vezes até chamam a Madeleine através dos seus telefones de brincar. Nada lhes é escondido, a casa está cheia de fotos de Madeleine", refere. Através do seu blogue, Gerry admite não haver dúvidas de que "Sean e Amelie têm tornado a nossa vida um pouco mais suportável nos últimos meses. Mas é claro que eles sentem muito a falta da irmã e têm muitas saudades dela". Uma casa com muitas fotos de Madeleine e brinquedos que continuam à sua espera, exactamente no sítio onde ela os deixou: o seu quarto. Espaço que Kate insiste em manter intacto e onde se refugia nos momentos de maior sofrimento, "para sentir a presença de Madeleine", como já fizeram saber os seus familiares. Uma atitude normal numa mãe que perdeu a filha, mas que revela que um ano depois do desaparecimento da filha a médica está muito mais frágil. E, ao contrário do que fazia ainda há alguns meses, com dificuldade em olhar as pessoas de frente. A vulnerabilidade de Kate poderá mesmo estar a pôr em risco o seu casamento. Segundo familiares de Gerry, este terá manifestado alguma incerteza sobre o futuro da relação com Kate, pois começa a sentir-se frustrado por até agora nenhuma das suas múltiplas tentativas para animar a mulher terem tido resultados. Mitchell reitera que os McCann têm consciência que cometeram um "erro" ao deixar os seus três filhos sozinhos na noite em que Madeleine foi raptada, mas acentua o seu desgosto. "Eles erraram, mas ninguém, ninguém lamenta mais do que eles o que aconteceu. E possivelmente terão de viver com esse desgosto o resto das suas vidas." E conclui: "O que é preciso é que todos se unam na busca de Madeleine. Como sempre disse, Kate e Gerry estão completamente inocentes no desaparecimento da filha. Não há absolutamente nenhuma prova que ligue Kate e Gerry ao desaparecimento. Madeleine está desaparecida. Não há provas de que esteja morta e eles desejam que a polícia portuguesa continue a procurá-la." Mitchell lembra que "Kate e Gerry não querem que o caso seja posto na prateleira ou parado ou fechado" e, sobre uma eventual reconstituição do crime, recorda as palavras de Gerry: "Eu e a Kate estamos interessados em qualquer procedimento que ajude a encontrar a Madeleine, mas ainda nada está decidido." Em aberto está também a hipótese do casal vir a escrever um livro sobre Maddie, em pareceria com um escritor ou jornalista. Impedidos de viver sem culpa – apesar de esperarem ansiosamente o veredicto da Justiça -, Kate e Gerry sabem que não podem mudar o passado. Talvez por isso se empenhem tanto em mudar o futuro, ajudando famílias que possam um dia ver-se envolvidas numa situação semelhante. No meio de toda a controvérsia, importa lembrar que até se saber o que aconteceu a Madeleine, haverá sempre a esperança de que ela seja encontrada viva.
Um ano após o desaparecimento de Maddie, Kate e Gerry McCann: Sean e Amelie têm tornado a nossa vida um pouco mais suportável”
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