Passando a Ponte 25 de Abril para a margem sul do rio Tejo, é só percorrer alguns quilómetros para chegar à casa de Luísa e Carlos Bordallo-Pinheiro. A viagem é curta, mas quando se chega ao cimo da falésia, onde está situada esta casa-museu – como preferem chamar-lhe -, rapidamente se percebe que a azáfama da cidade ficou bem para trás. Foi aqui, neste verdadeiro refúgio, com uma paisagem a perder de vista sobre a Costa de Caparica, que o casal recebeu a equipa da CARAS. Durante uma agradável tarde, Carlos Bordallo-Pinheiro, sobrinho- neto do caricaturista Rafael Bordallo-Pinheiro e do retratista Columbano Bordallo-Pinheiro, que gere actualmente a fábrica de faianças Bordalo Pinheiro, partilhou connosco um pouco do seu universo pessoal e falou dos seus antepassados e do legado que lhe foi deixado, e que um dia deseja passar aos filhos, Carlos, de 33 anos, e Rafael, de 28. – Esta casa é uma herança de família? C. Bordallo-Pinheiro – Esta casa foi construída quando eu tinha seis anos e foi aqui que cresci. Temos aqui muitas peças ligadas à família, tanto ao Columbano como ao Rafael. Foi um legado que nos deixaram e que eu e a Luísa fazemos questão de preservar como uma casa-museu. Embora não seja um espaço público, gostamos de mostrar a quem gosta e aprecia esta arte. – Diz-se que por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher… – É verdade. A Luísa tem sido o meu grande apoio ao longo destes anos todos. Mas não posso esquecer também a minha mãe, que esteve igualmente do nosso lado em todos os momentos. Sempre nos acompanhou e apoiou, quer na retaguarda da organização do lar, quer a opinar acerca das diversas decisões ao longo da vida. Ambas foram, e são, fundamentais no desenvolvimento harmonioso da nossa família. – Ainda se lembra do momento em que conheceu a Luísa? – Claro que sim. Conhecemo-nos ainda no liceu, em 1970, e quatro anos depois casámo-nos. – Qual é o segredo para os 34 anos de casamento? L. Bordallo-Pinheiro – Tem que haver muita compreensão, amor, carinho, lealdade, entendimento, diálogo… e nós temos isso tudo. Mesmo no trabalho, pedimos a opinião um do outro e discutimos os problemas e decisões em conjunto. – Não pensam em deixar o trabalho, passar o legado aos filhos e desfrutar apenas da companhia um do outro? Carlos – Já pensámos nisso, mas decidir quando é que isso se vai concretizar é mais complicado. Estamos numa fase da vida em que temos de começar a pensar nisso mais a sério. Entretanto, aproveitamos as férias. Gostamos muito de ir para fora, porque aí sei que consigo desligar-me de tudo. Eu sou viciado no trabalho. Até fora do trabalho eu trabalho. Mesmo aos fins-de-semana e em casa… Luísa – Se os nossos filhos quisessem seguir o legado da família, tornava-se mais fácil. – Os filhos optaram por seguir caminhos diferentes? Carlos – Sim, mas têm na mesma muita curiosidade em conhecer o passado e o legado da família. E independentemente das escolhas deles, têm sempre o nosso apoio. – O que é que eles fazem? – O Carlos administra uma clínica especial, que nós decidimos fazer por vontade dele. A partir de uma certa altura, ele mostrou muito interesse em apoiar problemas de cariz social, nomeadamente ligados à dependência química e de álcool. O Rafael, apesar de ainda estar numa fase de aprendizagem, está-me a acompanhar. – Gostavam que eles tivessem seguido as pisadas do pai? – O meu desejo era que continuassem o legado, que pudessem apoiar um pouco aquilo que nós idealizamos. Mas o caminho é escolhido por eles. Luísa – A minha esperança é que mais tarde comecem a ver as coisas e a vida de outra forma e que nos ajudem a reduzir a nossa actividade profissional. Reduzir, porque terminar vai ser impossível, não me vejo a não fazer nada. Talvez com a chegada dos filhos mudem de ideias. – O apelido traz-vos uma responsabilidade acrescida? Carlos – Torna-se natural. Porém, há de facto uma responsabilidade que sentimos por tentar manter, preservar, esta arte e este nome. Mas não quer dizer que seja um esforço, porque crescemos com isto e é quase como o ar que se respira, torna-se inerente à nossa vida. – Sente-se realizado? – Em termos genéricos, sinto-me um homem realizado, mas tenho sempre a sensação de que me falta qualquer coisa. Não sei o quê, mas se fizer uma retrospectiva, não há dúvidas de que tenho de me sentir realizado. Mas, se olhar para o futuro, começo a dizer que ainda posso fazer mais isto ou aquilo. "A Luísa tem sido o meu grande apoio nestes anos todos." (Carlos) "O meu desejo era que os meus filhos continuassem o legado." (Carlos) "O segredo para 34 anos de casamento passa pela compreensão, amor, lealdade… e nós temos tudo isso." (Luísa)
Carlos e Luísa Bordallo-Pinheiro recebem-nos na sua casa-museu
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