Num destes dias saí do transito e estacionei numa das praias da linha de Cascais. O sol de Fevereiro mais parecia um dos abençoados dias de Primavera de Abril ou Maio. Se o fizesse nessa altura, na praia deserta onde estive, provavelmente haveria já quem estivesse a banhos e quem procurasse ganhar a primeira cor do ano. Assim, ali na barra, só eu e um casal de namorados experimentamos os prazeres de um fim de tarde extraordinário.Deu para sentir a aragem quente (de Fevereiro!), assistir de plateia à beleza de um suave pôr-do-sol de Inverno e avistar um mar pequeno, saudoso de tocar peles morenas.É certo que outras coisas menos boas nos trará este invulgar clima. Já todos os sabemos e (quase) todos nos preocupamos. Mas essa pausa – de cheiros intensos, de sons de verão, da luz que nos entra país adentro e nos toca o corpo vestido, das esplanadas tranquilas repletas de cadeiras solitárias e de um serviço atencioso e sem pressas – essa, já ninguém nos tira. Talvez pelo hábito fazer o monge, nos esqueçamos tanta vez da sorte de sermos banhados por um Atlântico que quase todo o ano nos convida a uma visita, e que passa, de Outubro a Maio, dias e noites numa solidão incompreensível. Mas há mais coisas que por essa costa predominam mês após mês. Predominam as praias (desertas!), esplanadas com localizações privilegiadas, restaurantes quase a tocar o mar que servem igualmente bem, quem sabe até melhor do que na época de veraneio. O peixe fresco também não emigra nos meses mais frios e a sangria serve-se igualmente saborosa, num ambiente artificialmente mais quente, mas também ele acolhedor. Ora se vezes sem conta, no Verão, as praias repletas de gente nos inibem de sair de casa, porque não fazê-lo no Outono, no Inverno, na Primavera, em que elas ali estão, virgens e igualmente belas, só para nós… Não há país – e conheci para mais de 100 – com uma luz igual a este canto do mundo. Devíamos e merecíamos gozá-lo mais. Senti-lo mais. O corpo agradece e os proprietários de restaurantes, bares, esplanadas e hotéis e afins que vivem do mar também. Passámos anos a queixarmo-nos do mau turismo português. Agora que ele desabrochou, porque não aproveita-lo na sua plenitude? Meia hora bastou para parar, para tomar um ice-tea recheado de prazer, e reconhecer que o paraíso não está longe. Está já ali, quando e onde se quiser. De regresso à estrada o trânsito não estava nem melhor nem pior. Mas eu lá segui retemperada, de prazeres fora d´época.
Prazeres fora d’época
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